Rússia e China reforçam colaboração tecnológica em IA para enfrentarem os EUA

A China e a Rússia estabeleceram uma parceria estratégica no campo da inteligência artificial (IA), um movimento que promete desafiar a liderança dos Estados Unidos nesta área. A decisão foi formalizada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, que ordenou ao governo e ao maior banco estatal russo, o Sberbank, que cooperem com a China no desenvolvimento de tecnologias avançadas de IA.

De acordo com instruções publicadas no site oficial do Kremlin esta quarta-feira, Putin determinou que as entidades russas devem “garantir uma maior cooperação com a República Popular da China na investigação e desenvolvimento tecnológicos no campo da inteligência artificial”.

Esta colaboração surge num contexto de sanções ocidentais que limitam a capacidade da Rússia de aceder às tecnologias necessárias para o desenvolvimento de IA, incluindo microchips cruciais para o processamento de dados. Em 2023, o CEO do Sberbank, German Gref, reconheceu que a falta de acesso a unidades de processamento gráfico (GPUs) representava um obstáculo significativo para os avanços da Rússia nesta área.

A Rússia tem direcionado os seus esforços em IA para o setor militar, utilizando a tecnologia em operações de cibersegurança, treino militar, dispositivos anti-drones e sistemas não tripulados. O Centro Internacional de Defesa e Segurança destaca que a IA tem sido uma ferramenta essencial para Moscovo durante os quase quatro anos de guerra com a Ucrânia.

Entretanto, a China também tem avançado significativamente na aplicação de IA em cenários de combate, incluindo o desenvolvimento de “robots assassinos” totalmente autónomos. Relatos indicam que Moscovo e Pequim já começaram a colaborar no desenvolvimento de armamento baseado em IA, o que pode alterar drasticamente a dinâmica da guerra moderna.

Apesar destes avanços, os Estados Unidos continuam a liderar a inovação em IA, de acordo com o Global AI Index de 2024, produzido pela Tortoise Media. O índice coloca a China em segundo lugar, enquanto a Rússia ocupa a 31.ª posição entre 83 países. Outro relatório, da Universidade de Stanford, sublinha que a diferença entre os EUA e a China está a aumentar, com os Estados Unidos a destacarem-se em termos de produção científica e investimento privado.

Aliança tecnológica no contexto dos BRICS

Para além da cooperação com a China, Putin anunciou recentemente planos para fortalecer a colaboração em IA entre os países membros dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Esta iniciativa pretende criar uma aliança tecnológica que rivalize com os avanços norte-americanos.

Contudo, analistas alertam que as sanções e a falta de acesso a tecnologia de ponta continuam a dificultar os progressos russos, forçando o país a depender de parcerias estratégicas, como a que foi agora formalizada com a China.

Esta aliança entre Moscovo e Pequim pode ter implicações significativas, especialmente no campo militar. Há quem preveja que o desenvolvimento conjunto de “robots assassinos” e outras tecnologias avançadas de IA possa vir a ser um marco na estratégia de guerra da Rússia.

O impacto desta colaboração será monitorizado de perto por governos e analistas internacionais, numa altura em que a corrida global pela supremacia em IA se intensifica. Os próximos anos prometem ser decisivos para o equilíbrio de poder tecnológico e geopolítico, com as implicações desta parceria a estenderem-se muito para além do campo militar.