Portugal está a uma distância segura em caso de ataque nuclear na Ucrânia?
Portugal está seguro de um eventual ataque nuclear na Ucrânia: são mais de 3.300 quilómetros de distância, o que, para a Ordem dos Farmacêuticos, é suficientemente longe para que seja possível afirmar que o nosso país não corre grandes riscos de exposição, apontou esta quarta-feira a ‘TVI’.
Num documento interno que a estação televisiva teve acesso, pode ler-se que “a distância a que Portugal se encontra da Ucrânia conduz a que a possibilidade de que seja necessária a toma profilática de iodo pela população portuguesa seja muito remota”.
O início do conflito na Ucrânia provocou uma corrida europeia aos comprimidos de iodo, devido aos receios de um conflito nuclear. Em Portugal, a realidade é outra. “Existe um medicamento registado com esta indicação que, contudo, não se encontra comercializado” – no entanto, “outros medicamentos comercializados, contendo iodeto de potássio, não têm uma dosagem adequada a esta indicação”.
A Ordem dos Farmacêuticos indicou também que um adulto teria de tomar uma dose de 130 mg de iodeto de potássio para ficar protegido do iodo radioativo – nas farmácias portuguesas existem medicamentos com até 0,3 mg, o que significaria que cada português teria de tomar mais de 400 comprimidos.
“Na eventualidade de ser necessária a toma de iodo, esta deverá ser feita apenas mediante orientações específicas das autoridades de saúde”, referiu o documento do organismo.
Os comprimidos de iodo comercializados em Portugal previnem a absorção de radiação?
De acordo com a DECO PROteste, os medicamentos comercializados em Portugal que contêm iodeto de potássio têm como indicação a suplementação de iodo em pessoas com défice desta substância na alimentação, nomeadamente grávidas e lactantes, e estão sujeitos a receita médica. Estes medicamentos têm concentrações de 0,2 e 0,3 miligramas de iodeto de potássio.
Os suplementos alimentares disponíveis têm dosagens inferiores aos medicamentos, por norma, inferiores a 0,2 miligramas.
Em ambos os casos, as dosagens são muito inferiores às necessárias para a proteção contra as radiações resultantes de acidentes nucleares.
Qual o iodeto de potássio utilizado no caso de exposição a radiações de acidentes nucleares?
Em caso de acidente nuclear, o iodo radioativo pode entrar no organismo por inalação ou por ingestão de alimentos contaminados. É um dos átomos mais perigosos que são libertados num acidente nuclear e concentra-se na tiroide, onde pode provocar danos celulares e cancro.
A profilaxia com iodeto de potássio, no caso de acidentes nucleares, pode reduzir significativamente a dose de radiação para a tiroide devido à exposição a iodo radioativo. Após a profilaxia com iodeto de potássio, este compete com o iodo radioativo e a sua captação pela tiroide ficará praticamente bloqueada.
Em Portugal, existe apenas um medicamento aprovado pelo Infarmed para utilização após incidentes nucleares com libertação de iodo radioativo, cuja concentração de iodeto de potássio é de 65 miligramas por comprimido. Contudo, estes medicamentos não são comercializados e, em caso de desastre nuclear iminente, deverá competir à administração central pôr em prática a sua distribuição às populações em risco. Mas apenas podem ser tomados após o apelo explícito das autoridades.
Neste contexto, os benefícios do bloqueio da tiroide pelo iodeto de potássio excedem, de longe, os riscos para a saúde de todos os grupos etários. Ainda assim, os efeitos adversos podem incluir reações alérgicas leves (como erupções cutâneas ou desconforto gastrointestinal), hipertiroidismo, autoimunidade induzida por iodo, bócio nodular tóxico e e hipotiroidismo induzido por iodo.
Qual o papel do iodo no organismo?
O iodo é um micronutriente responsável pela síntese das hormonas tiroideias (triiodotironina e tiroxina) e não é sintetizado no organismo, pelo que a alimentação é a sua principal fonte. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as doses diárias recomendadas são:
– crianças até aos cinco anos — 90 microgramas;
– crianças entre os seis e os 11 anos — 120 microgramas;
– adolescentes adultos até idosos — 150 microgramas;
– grávidas e lactantes — 250 microgramas.
O iodo encontra-se naturalmente presente na água do mar e, por essa razão, o pescado (peixe e marisco) e as algas são considerados importantes fontes de iodo na alimentação. O leite e os ovos, bem como os seus derivados, são também consideradas importantes fontes alimentares de iodo.