Ninguém se ‘chega à frente’: Hezbollah em plena crise de liderança após Israel eliminar Nasrallah

O Hezbollah encontra-se num período de incerteza, após quase duas semanas sem conseguir nomear um novo líder, na sequência da morte do seu influente chefe, Hassan Nasrallah, num ataque aéreo israelita. O número dois da organização, Sheikh Naim Qassem, indicou que não pretende assumir o cargo de líder, o que antecipa um prolongamento da indefinição quanto à sucessão no topo da estrutura do grupo apoiado pelo Irão.

Nasrallah, que liderava o Hezbollah há várias décadas, foi morto no final de setembro num bombardeamento israelita dirigido aos subúrbios do sul de Beirute, uma área conhecida como Dahiyeh, descrita pelo exército israelita como o “centro nevrálgico” da organização. Desde então, a região tem sido alvo de intensos ataques por parte de Israel, como parte de uma operação militar mais vasta contra infraestruturas e líderes-chave do Hezbollah.

Pouco depois da morte de Nasrallah, Sheikh Naim Qassem, numa declaração divulgada pela agência iraniana IRNA, garantiu que o Hezbollah iria eleger um novo líder “o mais rápido possível”. No entanto, numa recente mensagem em vídeo transmitida pela Press TV, um canal iraniano, Qassem reiterou que um novo líder seria escolhido, sugerindo que ele próprio não assumiria a liderança da organização.

Conflito com Israel intensifica-se

Nos últimos meses, o Hezbollah e Israel têm estado envolvidos numa troca constante de fogo ao longo da fronteira norte de Israel, num conflito que dura há mais de um ano. O Hezbollah justifica as suas ações como um ato de solidariedade para com o Hamas, o grupo militante palestiniano que também tem sido alvo de ataques israelitas no seguimento dos ataques do grupo a 7 de outubro do ano passado.

No final de setembro, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou uma incursão terrestre “limitada, localizada e direcionada” no sul do Líbano, acompanhada por bombardeamentos aéreos intensos. Segundo Netanyahu, esta operação visava eliminar “milhares de terroristas”, incluindo o próprio Nasrallah, que descreveu como “o influente líder do Hezbollah apoiado pelo Irão”.

Além de Nasrallah, Israel afirmou ter eliminado “o seu substituto e o substituto do substituto”, numa aparente referência a Hashem Safieddine, primo de Nasrallah e considerado um potencial sucessor à liderança do Hezbollah. No entanto, ainda não há confirmação oficial por parte das Forças de Defesa de Israel (FDI) sobre a morte de Safieddine, nem sobre a identidade de outras figuras de topo que poderão ter sido eliminadas.

Hezbollah sem liderança clara

A morte de figuras de topo do Hezbollah tem deixado a organização numa posição instável. Sarit Zehavi, uma ex-oficial de inteligência e coronel reformada do exército israelita, afirmou que a eliminação de líderes proeminentes deixou o Hezbollah “muito abalado”. Em declarações à revista Newsweek, Zehavi sublinhou que, apesar do grupo manter vários ramos e comandantes a diferentes níveis, “nenhum deles está ao mesmo nível dos cinco principais líderes” já mortos.

Beni Sabti, investigador do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel, também destacou a dependência do Hezbollah dos seus líderes superiores, referindo que a organização está atualmente “sem um plano claro” para o futuro, limitando-se a manter os ataques contra Israel, sem perspetivas estratégicas a longo prazo.

A incerteza sobre o futuro da liderança do Hezbollah foi acentuada por declarações do ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, que, numa visita à fronteira norte de Israel com o Líbano, afirmou que o Hezbollah “é uma organização sem cabeça”. Gallant referiu que Nasrallah foi eliminado, assim como o seu substituto, embora não tenha especificado nomes. Além disso, o IDF anunciou a morte de Suhail Hussein Husseini, descrito como o comandante do quartel-general do Hezbollah em Beirute, num ataque aéreo israelita.

A crise no topo da organização libanesa levanta dúvidas sobre a sua capacidade de manter a coesão e a eficácia operacional, num momento em que o Hezbollah enfrenta uma ofensiva militar contínua de Israel, que visa desmantelar as suas infraestruturas e eliminar os seus principais líderes. A ausência de uma liderança clara poderá ter um impacto significativo na capacidade do Hezbollah de coordenar as suas operações, tanto no Líbano como em apoio a grupos militantes palestinianos.

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