Jovens imigrantes desempregados arranjam emprego mais rapidamente por aceitarem trabalhos que os portugueses não querem

A crescente vaga de imigração em Portugal está a moldar significativamente o mercado de trabalho, como revela um estudo do Observatório do Emprego Jovem (OEJ) do Iscte. Os jovens imigrantes, representando 18,5% dos jovens desempregados inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) em 2023, têm um impacto notável devido à sua disposição para aceitar trabalhos menos desejados.

O estudo, intitulado “Jovens à procura de emprego inscritos no IEFP: Características, Trajetórias e Colocações”, elaborado por Paulo Marques, Maria do Carmo Botelho, Maria da Conceição Figueiredo e Rita Guimarães, destaca que a maioria destes jovens provém de países de língua oficial portuguesa, principalmente Brasil, e está concentrada na região de Lisboa.

63,5% destes jovens concluíram o ensino secundário e apenas 21,7% a receber subsídio de desemprego, a sua inscrição média no IEFP é de cinco meses, contrastando com os 11 meses dos jovens portugueses em geral.

“O peso dos imigrantes no mercado do trabalho em Portugal é cada vez maior e, como a população imigrante é predominantemente jovem, isso faz crescer o número de jovens imigrantes à procura de emprego”, afirma Paulo Marques, investigador e docente no Iscte e coordenador do Observatório do Emprego Jovem. “Estes jovens imigrantes têm, em média, uma boa formação escolar, acedem pouco ao subsídio de desemprego, são absorvidos mais rapidamente pelo mercado e aceitam empregos menos desejados”.

Paulo Marques refere que “os imigrantes estão dispostos a aceitar empregos que são piores do que as suas expectativas iniciais, ajudando isso a explicar porque é que se inserem mais rapidamente no mercado de trabalho do que a globalidade dos jovens em Portugal”. A duração média de inscrição dos imigrantes jovens no IEFP é de cinco meses, contra 11 meses dos jovens em geral. Como os imigrantes têm menos rede familiar e de amigos, a importância do papel do IEFP torna-se mais relevante para a sua procura de trabalho.

Os imigrantes ocupam, em grande parte, postos nos setores de atividade menos atrativos, como atividades administrativas e serviços de apoio, que empregam 35,9% dos imigrantes colocados. Esta tendência deve-se à pressão para encontrar trabalho devido aos requisitos dos vistos de residência e dificuldades económicas.

O estudo sublinha a necessidade de políticas públicas que melhorem as condições de trabalho e adaptem as ofertas de emprego às qualificações dos imigrantes. ““São necessárias políticas públicas que favoreçam melhores condições de trabalho, ao mesmo tempo que o IEFP deverá preparar os seus serviços para melhorar as ofertas de emprego a jovens imigrantes, ajustando-as mais às suas qualificações e levando a que um número maior se possa inserir em setores com maior intensidade de conhecimento, tornando a economia portuguesa mais competitiva,” acrescenta Paulo Marques.

Para aumentar a inserção dos imigrantes em setores económicos mais inovadores, o estudo recomenda uma maior monitorização dos imigrantes inscritos no IEFP e a agilização do reconhecimento de qualificações. Além disso, sugere-se a criação de oportunidades de formação em contexto de trabalho, especialmente para os jovens menos qualificados, que representam 36,1% dos desempregados inscritos no IEFP.

O relatório também destaca a necessidade de atrair mais mulheres para áreas de engenharia e tecnologias de informação, áreas com alta procura no mercado de trabalho. As mulheres constituem 56,3% dos jovens inscritos à procura de emprego, muitas vezes em áreas com maiores dificuldades de empregabilidade.

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