O papel da Digi na nova era das telecomunicações em Portugal
Por Pedro Braga Ramalho, partner da ERA Group
Num ambiente marcado por críticas aos preços elevados em comparação com a média europeia, a entrada da Digi no mercado português de telecomunicações representa uma potencial viragem no setor, tradicionalmente dominado e dividido pela MEO, NOS e Vodafone. A chegada deste quarto operador com uma política de preços competitiva promete beneficiar tanto consumidores como empresas, ao pressionar as operadoras estabelecidas a rever tarifas e condições. O investimento superior a 500 milhões de euros pela Digi reflete um compromisso sólido com o mercado, criando novas oportunidades para a escolha e a inovação do setor.
O futuro promissor desta operadora na Europa parece garantido. Fundada na Roménia em 1994, a Digi rapidamente se expandiu para outros países europeus, como Espanha, Itália e Hungria, posicionando-se como uma alternativa de baixo custo em telecomunicações. Em Espanha, onde opera desde 2008, conquistou cerca de 3 milhões de clientes graças a preços competitivos e à oferta de serviços de alta qualidade, especialmente em fibra ótica.
Com a recente chegada a Portugal, o país tornou-se o quinto mercado europeu onde a Digi está presente, reforçando a sua estratégia de expansão internacional. Mas esta internacionalização vem diferenciar, em muito, o cenário vivido no setor. Estudos recentes mostram que os consumidores portugueses pagam até 73% mais do que a média europeia por serviços de telecomunicações equivalentes. Um pacote de internet móvel de 50 GB, por exemplo, custa significativamente mais em Portugal do que em outros países da União Europeia, colocando o país entre os mais caros do bloco. A Digi surge, assim, como uma alternativa atraente, oferecendo pacotes completos por apenas 32€ mensais, em contraste com os cerca de 72€ cobrados, em média, pelas operadoras estabelecidas. Esta discrepância nos preços e na oferta cria o chamado “efeito de entrada”, no qual a presença de um novo player de baixo custo força os incumbentes a mudar de estratégia. A entrada da Digi pode mesmo representar uma oportunidade de alinhamento dos preços praticados no país com os da média europeia.
No entanto, os benefícios para o tecido empresarial não são tão lineares, uma vez que ainda não existe uma oferta especificamente voltada para os negócios. Ainda assim, pode pressionar os concorrentes a melhorar as condições contratuais. A competição adicional incentiva a reavaliação de tarifas, o que pode gerar oportunidades de economia em telecomunicações, especialmente para pequenas e médias empresas (PMEs). A aposta da Digi em 5G e fibra ótica também serve como estímulo para o avanço tecnológico, beneficiando a produtividade e a competitividade das empresas.
A entrada deste player no mercado português traz, no entanto, desafios que importa considerar. A qualidade e a cobertura dos serviços, especialmente durante a fase inicial de expansão, são pontos que devem merecer a atenção das empresas. Além disso, a pressão sobre as margens dos operadores incumbentes pode levar a uma redução nos investimentos em infraestrutura, o que poderá impactar a competitividade digital de Portugal a longo prazo. Outro fator a considerar é o impacto da reestruturação do mercado nas ofertas e condições contratuais das operadoras. A Digi pode conduzir a uma fase de ajustamento nos serviços, à medida que a oferta tradicional procura responder à nova concorrência.
Em todos os casos, este novo cenário representa uma oportunidade significativa para as empresas reavaliarem suas estratégias, equilibrando ganhos de curto prazo com o impacto a longo prazo na infraestrutura digital. Com a promessa de maior competitividade e benefícios para os consumidores, as empresas são incentivadas a explorar oportunidades de otimização de custos, inovação digital e adoção de tecnologias avançadas. No entanto, para aproveitarem plenamente este novo cenário, é essencial que atuem de forma proativa, em analisar as novas ofertas disponíveis no mercado. A chave para aproveitar ao máximo este novo cenário está na capacidade das empresas de se adaptarem às mudanças e explorarem as oportunidades de otimização de custos e inovação digital, levando em conta os desafios únicos de cada negócio.
A promessa de preços mais baixos, de uma maior flexibilidade e de melhor qualidade de serviço pode trazer benefícios substanciais para o mercado português. O sucesso a longo prazo dependerá não apenas da capacidade da Digi de cumprir as suas promessas, mas também da resposta das operadoras estabelecidas a este novo cenário competitivo. Estaremos cá para ver.