XXXVI BARÓMETRO EXECUTIVE DIGEST: Manuel Lopes da Costa, Auren Consultores Portugal
A análise de Manuel Lopes da Costa, Country Managing Partner da Auren Consultores Portugal
Em primeiro lugar celebrar a expectativa optimista, para o primeiro semestre de 2024, da esmagadora maioria dos inquiridos para a evolução das vendas das suas empresas. De facto, 81% estima que essa evolução seja de pelo menos 10% quando comparada com o mesmo período do ano anterior. Os inquiridos estão tão ou mais confiantes que nenhum antevê a redução dessas mesmas vendas. Esperemos que assim seja! Esse optimismo não deixa, contudo, de vir acompanhado de alguma inquietação perante o actual cenário político e económico. De facto, neste questionário, a estabilidade governativa é indicada por 53% dos inquiridos como uma das maiores preocupações para o 2.º semestre de 2024, seguida pelas taxas de juro (28%) a par com temas mais endógenos à actividade das empresas, como a concorrência (33%) e a legislação e regulação (30%). Esta dualidade, entre aspectos relacionados com o contexto e os relacionados com o funcionamento das empresas mantem-se porquanto os inquiridos identificam a carga fiscal (64%) e a produtividade (67%) como os factores que maiores barreiras podem colocar ao crescimento da economia portuguesa. Face a este sentimento generalizado de que a falta de produtividade das nossas empresas é um dos problemas a endereçar, não surpreende que a agilidade organizacional (72%) e a digitalização dos processos (47%) sejam identificados como os principais factores-chave para o aumento da competitividade dos negócios. No espaço da digitalização dos processos surgem as tecnologias mais actuais. Em particular, a inteligência artificial (IA) já é considerada, para 8% dos inquiridos, como uma potencial ferramenta de tomada de decisão autónoma. Mais conservadores estão, contudo, 51% desse mesmo painel, para os quais a IA ainda só será considerada, na sua indústria, para funções menos importantes, tais como geradores de texto, de imagens, ou de código de computador, mas, eventualmente de âmbito mais alargado dentro das organizações. Ainda no que respeita à digitalização dos processos e à consequente maior exposição, das pessoas e empresas, às tecnologias cada vez mais suportadas em cloud, não deixa de me preocupar a resposta à questão sobre a evolução do investimento na gestão do risco (à qual 68% indica pretender apenas manter esse investimento). Se por um lado, empresas mais ágeis podem fazer melhor face à inconstância e ambiguidade dos contextos actuais e serem mais resilientes do ponto de vista do negócio, aspectos relacionados com a cibersegurança já não podem interessar só às grandes empresas. O risco de um ataque está na mão de cada um dos nossos trabalhadores quando acedem e operam os nossos sistemas com um clique num smartphone, num qualquer outro dispositivo à distância ou mesmo directamente na rede das nossas empresas. Sem deixar um alarme quanto ao uso das várias tecnologias tão úteis à produtividade, faço, pelo menos um alerta para que não descurem este risco cujo impacto e consequência podem ser muito expressivos.
Testemunho publicado na edição de Junho (nº. 219) da Executive Digest, no âmbito da XXXVI edição do seu Barómetro.