Uma nova investigação realizada por cientistas australianos revelou a incrível quantidade de energia que uma gravidez humana exige.
Publicado na quinta-feira na revista Science, o estudo estima que uma gravidez consome quase 50.000 calorias ao longo de nove meses, o equivalente a cerca de 50 litros de gelado Ben & Jerry’s Cherry Garcia.
Este valor surpreendeu os investigadores, pois é significativamente maior do que o esperado. Estimativas anteriores subavaliaram esta necessidade energética, assumindo que a maior parte da energia utilizada na reprodução seria armazenada no feto. No entanto, Dustin Marshall, biólogo evolucionista da Universidade Monash, e a sua equipa descobriram que apenas cerca de 4% da energia total da gravidez é armazenada nos tecidos do bebé. Os restantes 96% são necessários para suportar as mudanças e demandas no corpo da mulher.
“O bebé em si representa uma pequena parte do consumo energético,” explicou o Dr. Marshall. “Demorámos algum tempo a processar esta descoberta.”
A pesquisa baseou-se em dados de várias espécies para compreender melhor o consumo energético ao longo da vida. Dr. Marshall e os seus alunos compilaram informações de 81 espécies, desde insetos a mamíferos, analisando a energia utilizada para a reprodução. Eles examinaram tanto a energia armazenada nos descendentes quanto a taxa metabólica das fêmeas durante a gravidez, medida através do consumo de oxigénio.
A análise revelou que o tamanho e o metabolismo dos animais influenciam significativamente a energia necessária para a reprodução. Animais microscópicos, como os rotíferos, precisam de uma quantidade ínfima de calorias, enquanto mamíferos maiores, como as corças, requerem centenas de milhares de calorias.
Os mamíferos de sangue quente necessitam de três vezes mais energia para a reprodução em comparação com répteis e outros animais de sangue frio de tamanho semelhante. Esta descoberta foi particularmente surpreendente para os investigadores, pois mostrou que os custos indiretos da gravidez — a energia adicional necessária para o corpo da mãe — são muito maiores do que os custos diretos.
“A magnitude dos custos indiretos foi inesperada,” disse Marshall. “Os nossos dados mostram que apenas cerca de 10% da energia usada durante a gravidez vai diretamente para o bebé.”
David Reznick, biólogo evolucionista da Universidade da Califórnia, Riverside, que não participou no estudo, também ficou surpreendido com os altos custos indiretos revelados. “Nunca teria imaginado isso,” comentou ao The New York Times.
O estudo sugere que as fêmeas de mamíferos investem significativamente mais energia nos seus descendentes durante a gravidez do que se pensava anteriormente. Isso pode explicar o elevado investimento no cuidado pós-natal, pois as mães já gastaram uma quantidade substancial de energia durante a gestação.
Marshall e a sua equipa especulam que os custos indiretos elevados podem estar relacionados com a necessidade de sustentar os embriões internamente e construir estruturas como a placenta. Nos humanos, o longo período de gestação comparado com outros mamíferos também contribui para os custos energéticos elevados.
“Os nossos resultados podem ajudar a entender porque é que as fêmeas de mamíferos estão tão envolvidas no cuidado dos seus jovens após o nascimento,” concluiu Marshall.














