Carta aberta ao próximo Governo

Por Fernando Neves de Almeida, chairman e partner da Boyden Portugal

Aproxima-se a data das eleições legislativas.

prever o resultado, arrisco dizer que seja quem for que ganhe, vai ter objetivos muito semelhantes: aumentar o salário médio, resolver os enormes problemas no setor da saúde, da falta de professores no setor da educação, da justiça, enfim, todos os problemas com que nos temos vindo a debater nas últimas décadas e mais alguns que irão surgir.

Sinto que os principais atores políticos, do arco da governação, no que respeita à função social do estado, não têm pontos de vista assim tão diferentes. E ainda bem. A solidariedade social, como valor orientador que a generalidade da Europa conquistou nos últimos anos, é um bem a preservar.

O que, na minha opinião, mais divide os “rivais” é um problema do “como”. Ou seja, queremos ser mais solidários e dividir mais riqueza (nas várias formas), mas como é que melhor se cria mais riqueza para se poder distribuir?

A esquerda, que nos tem governado nos últimos anos, parece ser muito desconfiada daqueles que tem por vocação e obrigação criar riqueza. Porventura com razão em algumas circunstâncias, mas, seguramente, sem razão na grande maioria dos casos.

Sou um grande defensor de deixar o mercado funcionar desde que sejam cumpridas as regras que cada sociedade, em determinado momento, considere as mais adequadas para defender os seus cidadãos. Não tenho memória de qualquer economia sem livre iniciativa ter funcionado melhor do que o oposto. Se o que está em causa é o aumento do bem-estar social, medido em valor e direitos (saúde, educação, justiça), uma sociedade que gere mais valor tem mais para distribuir.

Penso que seria muito útil que a solução governativa que saia das próximas eleições visse os empresários e gestores como fundamentais para a prossecução do seu desígnio: melhorar Portugal e a vida dos portugueses. Os empresários e gestores portugueses já deram provas em todas as áreas em que operam que conseguem ser eficazes e eficientes (saúde, educação, transportes, etc.)

Como compreende quem se interessa por temas do comportamento humano, a questão dos incentivos é a base de alinhamento do comportamento. Já dizia Peter Drucker “as pessoas não se comportam como gostaríamos que se comportassem. Comportam-se como as incentivamos a comportarem-se”. Se o tema é a criação de riqueza, esse é o incentivo que faz os empresários e gestores moverem-se. Assim, o meu conselho aos políticos que virem a formar o próximo governo (de esquerda ou de direita), é que se aproveitem da enorme capacidade de realização dos empresários e gestores portugueses e os ponham a ajudar a resolver os problemas que todos querem ver resolvidos, com a regulação adequada, e depois se preocupem com aquilo que verdadeiramente deve caracterizar um político: a justiça social.

A generalidade dos problemas dos setores públicos que vemos serem abordados no dia-a-dia das televisões estão relacionados com falta de gestão. E é compreensível. Ser gestor público em Portugal é, em muitos casos, um suplício. Sistemas de incentivos inexistentes; salários abaixo da média do mercado e permanentemente sob suspeita. Compreendo que tenha de haver regras apertadas para a gestão pública, até porque o que está em causa é o dinheiro de todos nós. Mas se existem tantos constrangimentos ao exercício dessas funções, ponham os privados a gerir e controle-se e pague-se pelos resultados. Já tivemos excelentes resultados com esse tipo de situações e poderemos continuar a ter.

No entanto, não quero com isto dizer que se uma organização for pública, não possa ser bem gerida. Pode! Deve é ser gerida como se fosse privada, por pessoas com as competências certas, a receberem o salário adequado e com os incentivos necessários. Parece-me difícil, mas possível.

Seja como for, o meu pedido é só um: aproveitem o potencial dos empresários e gestores portugueses. Ponham-nos a trabalhar para ajudar a resolver os problemas de todos nós.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 214 de Janeiro de 2024

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