Negociações? “Há interesses políticos” para que “as coisas se tornem catastróficas”, denunciam médicos

Esta sexta-feira está marcada mais uma reunião negocial entre sindicatos dos médicos e Ministério da Saúde e, ainda que as estruturas sindicais admitam cedências, não têm boas perspetivas para um entendimento com a tutela. Os médicos denunciam ainda “pressões” e “interesses políticos” para que não se chegue a acordo, de forma a que as coisas se tornem “catastróficas” e obriguem a uma intervenção do Presidente da República.

Joana Bordalo e Sá, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), diz à CNN Portugal que “a expetativa é extremamente baixa”, e considera que é necessário que o ministro da Saúde “deixe de ser intransigente” e oiça os médicos.

Já Roque da Cunha, que é secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), afirma que poderão haver cedências por parte dos médicos nas negociações de sexta-feira, mas que “os problemas que se foram acumulando nos últimos dez anos não se resolvem de um dia para o outro”, e por isso é necessário calendarizar a entrada em vigor de eventuais medidas.

Após mais de um ano de negociações, com poucos ou nenhuns avanços no sentido de responder às reivindicações dos médicos, o líder do SIM recorda que a solução para a atual situação do SNS, e para o caos esperado em novembro, mês que Fernando Araújo, diretor executivo do SNS, antecipou ontem que será o “o pior em 44 anos de SNS”.

Por seu lado, Susana Costa, porta-voz do movimento Médicos em Luta, que tem reunido grande adesão na questão da entrega de pedidos de escusa às horas extraordinárias além do limite previsto na lei, também não tem esperança que as negociações cheguem “a bom porto” na sexta-feira, e vai mais longe, dizendo que “há interesses políticos em que não haja negociações e as coisas se tornem catastróficas e o Presidente da República tenha de tomar uma medida”.

Marcelo Rebelo de Sousa, recorde-se, promulgou ontem dois diplomas relativos à dedicação plena dos médicos ao SNS e sobre as unidades de saúde familiar (USF) modelo B, apesar de sublinhar “inúmeras dúvidas e reticências” sobre a legislação que lhe foi apresentada.

Ainda sobre a entrevista de Fernando Araújo, em que o diretor executivo do SNS afirmou que “é importante mostrar o desagrado, é importante ter capacidade de negociar com o Ministério da Saúde, é importante melhorar as condições salariais e de trabalho, mas há limites quando isso impacta na vida das pessoas”, os sindicatos consideram que foi uma forma de “pressionar para a negociação”, enquanto o movimento Médicos em Luta denuncia que é também uma forma de “tentar colocar a população contra a classe” profissional.

“Não são os médicos os responsáveis pelo caos que eventualmente se possa instalar em novembro”, reforça Joana Bordalo e Sá, sublinhando que desde setembro que o Executivo tem conhecimento da potencial situação que se criará no mês que vem e acusa o Ministério da Saúde de “não estar nada preocupado com a saúde dos portugueses”.

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