Falta de controlo sobre a morosidade é um risco para a atividade empresarial

A morosidade afeta a atividade da larga maioria das empresas portuguesas, revela Estudo de Gestão de Risco realizado pela Crédito y Caución e Iberinform. O atraso ou falta de pagamento de vendas realizadas a crédito coloca um número crescente de empresas em risco de fechar portas.

O mais recente Estudo de Risco de Crédito realizado pela Crédito y Caución e Iberinform junto de um painel de gestores de cerca de 300 empresas nacionais de diferentes dimensões e setores revela que 72% das empresas inquiridas sofrem impactos negativos da morosidade na sua conta de resultados e que 13% correm mesmo o risco de fechar portas devido à morosidade ou falta de pagamento de faturas vencidas, uma percentagem que subiu três pontos em relação ao dados apurados no estudo do ano anterior.

A falta de controlo sobre a morosidade constitui um risco para a atividade das empresas portuguesas. Além de gerar importantes tensões sobre a liquidez, atua como forte inibidor de investimentos, constituindo também fator de desestabilização das operações comerciais, em especial para as empresas de menor dimensão.

De acordo com o Estudo de Gestão de Risco divulgado pela Crédito y Caución e Iberinform, 42% das empresas inquiridas sofreram um agravamento dos seus custos financeiros em 2022 em resultado da morosidade nos pagamentos por parte dos seus clientes e 30% enfrentaram perdas de rendimentos relevantes, com 18% dos inquiridos a declarar terem sofrido incumprimentos significativos, percentagem que traduz um agravamento de dois pontos face aos resultados do ano anterior. Esta situação conduz a que 36% dos gestores entrevistados tenham sido obrigados a travar projetos de expansão, enquanto 28% afirmaram ter limitado os novos investimentos.

A esmagadora maioria das empresas participantes no estudo (uns expressivos 83%) sentiram os impactos do cenário económico atual no risco de crédito da sua carteira de clientes. Entre os eventos que estão a deteriorar o comportamento de pagamento e os níveis de solvência dos clientes os gestores destacam: o aumento generalizado da inflação (indicado por 64% das empresas), o agravamento dos custos financeiros (assinalado por 58%) e os custos energéticos (48%). O estudo torna evidente a perturbação provocada junto do tecido empresarial pelo endurecimento das políticas monetárias dos bancos centrais. No estudo realizado em 2021, o fator “custos financeiros” era irrelevante para o risco de crédito das carteiras comerciais das empresas, mas em 2022 ganhou importância significativa ascendendo à segunda posição dos principais fatores de agravamento do risco de crédito.

Entre os fatores críticos que preocupam os gestores e contribuem para a deterioração dos pagamentos e dos níveis de solvência destacam-se, ainda, o aumento dos custos dos insumos que conduzem à redução das margens das empresas que absorvem parte desses aumentos e não os repercutem diretamente nos preços finais. A isto acresce, as quedas na procura por parte das famílias, as tensões geopolíticas (fator referido por 21% das empresas) e os problemas na cadeia de fornecimento (17%).

De salientar que no caso de incumprimento de uma venda comercial a crédito, a perda resultante equivale aos custos de produção do produto. Quanto menor for a margem de lucro, maior será o impacto do incumprimento na medida em que multiplica as vendas com clientes solventes que serão necessárias para compensar a perda. Se uma sociedade com uma margem comercial de 10% sofrer um incumprimento no valor de 10.000 Euros, terá de gerar um novo negócio no montante de 100.000 Euros para compensar o impacto dos 9.000 Euros em custos de produção.

Apesar do estudo confirmar um contexto de deterioração do risco de crédito, somente 13% do tecido produtivo português inquirido neste estudo registou uma efetiva diminuição nas suas vendas, por oposição aos 79% que registaram algum tipo de crescimento. As empresas nacionais demonstram confiança que poderão manter esta dinâmica de crescimento em 2023, com destaque muito positivo para os 46% de empresas inquiridas que esperam que os seus níveis de faturação continuem a crescer, face aos 18% que preveem que este exercício, em termos de receitas, seja pior que o anterior.

 

 

 

 

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