Novo aeroporto em Lisboa que «pode inundar-se antes de 2050» faz destaque no El Mundo

Um dia depois da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ter dado parecer favorável ao futuro aeroporto complementar do Montijo, a decisão fez notícia lá fora. «O Governo português dá luz verde a um novo aeroporto em Lisboa – a chamada Portela+1 – que pode inundar-se antes de 2050», escreve o “El Mundo”, referindo-se ao ao risco da subida do nível médio do mar no futuro.

De acordo com o jornal espanhol, a aprovação da APA permite ao Governo de António Costa ultrapassar um dos principais obstáculos à construção do segundo aeroporto: a proximidade da Reserva Natural do Estuário do Tejo. Porém, recorda que Carlos Antunes, investigador do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disse ao “Expresso” que o estudo de Impacte Ambiental (EIA) do aeroporto do Montijo «omite projecções mais extremas e subestima a amplitude dos riscos da subida do mar e os seus impactos no projecto».

O EIA aponta para uma inundação máxima de 3,42 metros. No entanto, refazendo os cálculos com base num modelo concebido para a região do Estuário do Tejo e publicado na revista «Geosciences», o resultado é diferente: «Numa situação extrema, se a maré subir até 4,17 metros, perto de 1,6 quilómetros da base aérea podem ficar submersos, incluindo 400 metros da pista actual; e se chegar a seis metros, pode submergir 700 metros de pista».

«Apesar das advertências dos peritos e da possibilidade de um projecto aéreo multimilionário poder vir a ser um terminal subaquático, o Governo português mantém os seus planos de avançar com a construção do aeroporto o mais rapidamente possível», adianta o “El Mundo”, sublinhando que o executivo de Costa «está determinado em continuar a expandir o turismo em Portugal» e que o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nunes Santos, não hesitou em dizer que é necessário reforçar a capacidade aérea da capital para parar de desperdiçar «tempo, dinheiro e turistas».

O diário de «nuestros hermanos» vai ainda mais longe e diz que os habitantes de Lisboa estão «cada vez mais fartos de estrangeiros», por estarem a contribuir para «uma bolha imobiliária nos seus bairros». E, continua, apesar de o aeroporto Humberto Delgado ter batido todos os recordes ao registar, em 2018, 29 milhões de passageiros, «querem trazer cada vez mais pessoas para uma capital [Lisboa] que anteriormente se gabava de ter a sua própria identidade e o charme de uma pequena cidade».

Recorde-se que a nova infraestrutura na Base Aérea n.º6, no Montijo, permitirá que a Portela duplique o número de passageiros. A ANA – Aeroportos de Portugal suportará todos os encargos, num total de 1,15 mil milhões de euros, pelo que não implicará custos para os contribuintes. Mas, em contrapartida, poderá aumentar as taxas aeroportuárias, que só poderão crescer em função do volume de investimento e procura real do aeroporto de Lisboa.

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