Governo chinês promete 12 milhões de empregos após fim da estratégia “zero Covid”
O Governo chinês expressou esta segunda-feira confiança de que pode atingir a meta de crescimento económico para este ano, de “cerca de 5%”, e gerar 12 milhões de novos empregos, depois de ter desmantelado a estratégia “zero Covid”.
As autoridades não anunciaram detalhes sobre gastos ou outras medidas para impulsionar o crescimento, que caiu para 3%, no ano passado, o segundo ritmo mais lento em mais de 40 anos.
Estes esforços para reanimar a economia chinesa têm implicações globais, já que o país asiático é o principal mercado de várias matérias-primas e produtos com valor acrescentado.
Nos últimos anos, por exemplo, a China absorveu quase um terço das exportações brasileiras.
“Temos vários ‘utensílios’ políticos na nossa caixa de ferramentas”, disse o vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento e Reforma chinesa, órgão máximo de planificação económica do país, Li Chunlin, em conferência de imprensa, à margem da sessão anual da APN.
O relatório de trabalho, apresentado no domingo por Li Keqiang, foi breve e deu poucos detalhes, sugerindo que o Partido Comunista vai esperar, até que o novo primeiro-ministro e ministros do Executivo sejam nomeados, este mês, para anunciar detalhes sobre política fiscal, regulações, subsídios e outras mudanças.
A sessão plenária do órgão máximo legislativo chinês é a última de um ciclo político de cinco anos pautado pelos congressos do Partido Comunista (PCC), partido único no poder no país.
O 20.º Congresso do PCC, que se realizou em outubro passado, reorganizou o Comité Central do Partido, o Politburo e o Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China.
A ANP vai assim preencher os cargos dos órgãos do Estado de acordo com a nova formação hierárquica do PCC.
Li Chunlin apontou que a meta de criação de empregos para este ano é de 12 milhões, acima da meta do ano passado, de 11 milhões.
O presidente da Comissão de Desenvolvimento e Reforma chinesa, Zhao Chenxin, disse que a prioridade é “libertar o potencial de consumo” e promover uma “estratégia de desenvolvimento impulsionada pela inovação”.
O PCC preconiza um modelo económico assente no consumo interno, em detrimento das exportações, e na construção de grandes obras públicas.
Pequim avançou com planos industriais, compactados na iniciativa Made in China 2025, que visa transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades nos setores de alto valor agregado, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.
Li alertou que o ambiente global “tornou-se mais complexo e difícil”, numa referência à queda na procura, face ao aumento das taxas de juro na Europa e nos Estados Unidos, que visam travar a inflação galopante, e à deterioração das relações de Pequim com Washington e outros parceiros comerciais importantes.
Isto aumentou a pressão sobre as indústrias de exportação chinesas que sustentam milhões de empregos, tornando mais urgente impulsionar o consumo doméstico.
“A capacidade de consumo vem do emprego e do rendimento” e, portanto, o Governo deve “aumentar o rendimento dos residentes urbanos e rurais”, afirmou Li.
O responsável não deu mais pormenores, mas o PCC tem pressionado, nos últimos anos, as grandes firmas de tecnologia do país e outras empresas do setor privado a partilharem mais riqueza com o público, através do aumento de salários e filantropismo.
A meta de crescimento económico para este ano é a mais baixa em décadas, exceto para 2020, quando a atividade económica foi abalada pelas medidas de prevenção e controlo da Covid-19, no primeiro trimestre do ano.
“Vemos isto como uma proposta relativamente conservadora, mas pragmática, para proporcionar uma recuperação económica saudável e orgânica”, apontaram os analistas do banco de investimento japonês Nomura, num relatório.
“A economia da China ainda deve enfrentar vários ventos contrários ao longo do ano”, observaram. “A criação de empregos provavelmente será o foco do trabalho para este ano”.