“Não há dúvida nenhuma”: D. Américo Aguiar assegura que todos os padres suspeitos de abuso sexual serão afastados e que “é claríssimo” que haverá indemnizações

D. Américo Aguiar, bispo-auxiliar de Lisboa, assegurou que “não há dúvida nenhuma” de que os padres suspeitos de abusos sexual de menores ainda no ativo serão afastados da Igreja e sustenta que “é claríssimo” que haverá indemnizações pagas às vítimas dos crimes.

O afastamento incluirá também, eventualmente, os padres suspeitos de abusos sexuais e que estão no ativo ainda nas dioceses de Lisboa e Porto (cinco numa e sete na outra), e sobre os quais ainda não foi tomada qualquer decisão, estando os responsáveis a aguardar por “mais dados” sobre os envolvidos nas denúncias.

“Depois temos então os cinco, seis sacerdotes que são referidos nessa lista e que podem ser sujeitos à tal proibição do exercício público do ministério. É a chamada suspensão, embora na terminologia formal não se deva utilizar a palavra suspensão”, explica o bispo.

“O senhor Patriarca entregou à comissão diocesana, na passada quinta-feira – dia em que eu deixei, aliás, de ser membro da comissão diocesana, porque uma das decisões da Conferência Episcopal foi a de que os eclesiásticos não fizessem parte das comissões -, a lista que também solicitou de imediato à Comissão Independente dados que pudessem dizer alguma coisa sobre estes sacerdotes”, assegura o bispo auxiliar de Lisboa, sustentando que nos próximos dias a comissão diocesana terminará o seu trabalho de identificação dos casos, e recomendará ao patriarcado os próximos passos a seguir

Questionado sobre o facto de já muitas dioceses terem tomado iniciativa de afastar padres que constavam da lista de suspeitos de abusos ainda no ativo, Américo Aguiar admite “diferentes realidades” entre as dioceses, mas é direto: “Não há dúvida absolutamente nenhuma que um sacerdote que tenha sido denunciado, e sobre o qual nós tenhamos os dados mínimos, seja afastado do exercício do ministério”.

No entanto, o responsável admite os atrasos na reação da Igreja, e que têm motivado críticas, até do Presidente da República, mas explica que se devem ao cuidado com que o tema está a ser tratado. “O mínimo que se deve fazer para não tomar decisões erradas, e no respeito pelas vítimas, é demorar mais um dia, mais uma semana, mais 15 dias”, sustenta, enquanto promete que “a partir do momento que a comissão diocesana esteja munida das informações mínimas necessárias, as decisões serão tomadas imediatamente”, e os padres de Lisboa que constam da lista de abusadores no ativo sejam devidamente afastados.

Para já, segundo revela D. Américo Aguiar, os sacerdotes identificados não foram ainda contactados. O Patriarcado está a aguardar “mais dados” para poder dizer mais alguma coisa aos envolvidos “do que está numa lista”.

Relativamente à questão das indemnizações, e depois de o Patriarca ter dito que seria insultuoso o pagamento às vítimas, D. Américo Aguiar clarifica o que terá querido dizer o responsável

“A interpretação que faço [das palavras] do Patriarca não é dizer que “não” ou a dizer que “qualquer possibilidade de indemnização é insultuosa”. Entendo que estava a dizer que, quando no conhecimento direto dos casos e das pessoas e como isso nunca foi colocado e até foi negado por alguns, nós estarmos a colocar a questão podia soar a isso. Qual a minha leitura daquilo que significa o dossiê das indemnizações? Eu sou sacerdote e penso: “O que é que Cristo quer que se faça?” Acho que Cristo quer que não abandonemos ninguém que tenha vivido uma situação destas e isso passa por a acompanhar e também passa por um gesto de indemnização que signifique algum conforto, algum paliativo naquilo que foi o horror da sua vivência. A dor não prescreve”, sustenta o religioso, que diz que “é claríssimo” que tem de haver indemnizações pagas às vitimas de abusos sexuais na Igreja.

O que vai acontecer a quem ocultou casos e transferiu padres? “Essas situações têm que ter consequências”, sustenta o bispo, que diz não ter conhecimento de bispos em funções que tenham escondido casos de abusos sexuais

“A Igreja tem que ser farol, tem que ser timoneira, tem que ser exemplar. E todas estas nuvens, todos estes nevoeiros, todas estas hesitações, tudo isto tem que ser rapidamente ultrapassado. Temos que ser farol e sinal desta transparência total e desta “tolerância zero”, termina Américo Aguiar.

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