Imobiliário: Portugal tem o mercado «mais quente» da Europa, diz a “Bloomberg”
A febre do imobiliário português está a atingir temperaturas demasiado quentes para alguns. De acordo com a “Bloomberg”, o programa de vistos gold está a acelerar o processo de «gentrificação» no país e a tratar os moradores como «danos colaterais».
A agência financeira destaca o facto de a atribuição das autorizações de residência em troca de compras imobiliárias de, pelo menos, 500 mil euros continuar activo em Portugal – «o mercado imobiliário mais dinâmico da Europa Ocidental» -, apesar da subida das rendas e do valor das habitações estarem a empurrar a população para as periferias das cidades.
Ana Pinto, presidente da Associação de Moradores do Condado de Marvila, queixa-se dos valores do mercado nesta freguesia de Lisboa. «Os preços dos imóveis tornaram-se simplesmente insuportáveis para nós», confessa.
A “Bloomberg” destaca o anúncio a contentores para arrendar por 600 euros em Marvila, publicado há cerca de um mês, que gerou indignação nas redes sociais e levou a Câmara Municipal de Lisboa a decretar a sua «remoção imediata».
Só no primeiro trimestre deste ano, os preços do imobiliário para habitação em Portugal aumentaram 9,2%, segundo dados do Eurostat. Mas, ainda de acordo com a agência, «os preços das casas em Lisboa continuam a ser dos mais baixos entre as capitais da Europa Ocidental».
Contas feitas, o investimento estrangeiro captado através dos vistos gold, desde 2012, totaliza 4,3 mil milhões de euros. Acrescenta também que, «o primeiro-ministro, António Costa, que deverá ganhar um segundo mandato nas eleições do próximo mês, sinalizou que o país precisa de incentivos para continuar a atrair investimento».
«Lisboa tornou-se um imãn para os turistas na Europa, com muitos investidores a renovarem propriedades e a transformarem-nas em alugueres de curto prazo através de plataformas como o Airbnb, que têm sido responsabilizados pelo aumento de preços, pois têm como alvo para visitantes que podem pagar mais do que os locais»», salientou.
Tiago Caiado Guerreiro, advogado português, disse à agência que «estes incentivos transformaram cidades como Lisboa num íman para os investidores estrangeiros e ajudaram a colocar a cidade no mapa dos principais destinos turísticos». Sublinha também que ajudaram a reabilitar o centro de Lisboa, onde vários edifícios foram reconvertidos em hotéis, unidades de alojamento local e lojas de luxo.
Francisco Bethencourt, professor do King’s College, em Londres, partilha a mesma opinião. «Lisboa nunca esteve tão bem em termos de reabilitação dos seus edifícios. O número de prédios devolutos tem diminuído e alguma da pobreza que existia em certos bairros já não é visível», constata, embora concorde «esta mudança teve enormes custos sociais à medida que os moradores com menos recursos financeiros estão a ser empurrados para as periferias».