“Síndrome de Veneza” espalha-se pela Europa: As cidades são para os turistas ou para os residentes?

A cidade italiana de Veneza, classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, é uma presença assídua em filmes de Hollywood e é vista por muito como um dos centros urbanos mais icónicos, com a sua extensa rede de canais navegados por vários pequenos barcos que transportam milhares de turistas.

Antes da pandemia de Covid-19, Veneza recebia 25 milhões de turistas todos os anos, um número que contrasta fortemente com uma população de apenas 50 mil habitantes. Conta o ‘El Economista’ que um custos de vida elevado, inundações frequentes, o turismo massivo e habitações que estão além dos bolso de muitos, levaram a uma perda de 120 mil habitantes venezianos desde 1950.

A própria UNESCO chegou a ameaçar retirar a Veneza a categoria de Património Mundial. Para mitigar os efeitos de vagas diárias de cerca de 60 mil turistas, as autoridades municipais decidiram limitar a entrada de turistas na cidade, tendo já no ano passado proibido a passagem de grandes navios de cruzeiro na lagoa de Veneza e nos canais que passam em frente à Praça de São Marcos e à ilha de Giudecca.

Também no mês passado, Veneza anunciou que vai implementar, em janeiro do próximo ano, a obrigação de reserva antecipada e uma taxa de entrada para os viajantes que não pernoitam na cidade.

Contudo, Veneza não está sozinha e é apenas uma de várias cidades que estão a soçobrar sob o crescente peso do turismo.

Em Espanha, Santiago de Compostela, destino de eleição para peregrinos e turistas, recebeu mais de 12.000 pessoas de toda a Europa para a Peregrinação Europeia da Juventude.

Com uma população de 98 mil habitantes, só no passado mês de junho recebeu quase 83 mil visitantes. Essa massa de turistas está a causar tensões com os residentes, que reclamam de barulho e comportamento inadequado.

Ao turismo, soma-se o aumento dos preços das casas, que levam muitos habitantes a deixarem a cidade e a procurarem alternativas mais acessíveis noutras regiões.

Ainda em Espanha, Barcelona recebeu mais de 700.000 visitas só em junho, o que, para a Assemblea de Barris pel Decreixement Turístic (ABDT), faz com que os moradores deixem os seus bairros, causa a superlotação do espaço público, poluição, o desaparecimento do comércio local e promove a precaridade laboral no setor turístico.

As autoridades municipais já informaram que vão propor ao governo regional da Catalunha e ao governo central em Madrid que imponham limites à entrada de turistas na cidade, nomeadamente um embargo à abertura de novos alojamentos locais.

Adicionalmente, também as ilhas Baleares impuseram restrições ao número de turistas que podem entrar no território insular, limitando o número diário de cruzeiros que podem chegar aos seus portos.

As previsões apontam que em 2030 haverá cerca de 1.800 milhões de turistas internacionais, avança o periódico espanhol, pelo que é possível estimar que existam mais situações de conflito entre residentes e turistas e uma intensificação do êxodo em direção a cidades menos procuradas pelos turistas.

Para evitarem perder uma importante fonte de receitas, os governos, em articulação com as autoridades locais, deverão procurar desenvolver estratégia que conciliem a atividade turística com a proteção da vida quotidiana dos residentes, como programas de turismo mais sustentável que procurem dispersar os turistas por várias cidades, ao invés de concentrar as massas de viajantes num ou noutro local mais emblemático.

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