Há mais de 60 países com dificuldades em pagar importações de alimentos, alerta ONU
Mais de 60 países em todo o mundo estão a enfrentar grandes dificuldades para pagarem importações de bens alimentares cruciais para impedir que as suas populações sejam empurradas para situações de subnutrição e até fome.
A preocupação é avançada num documento confidencial, a que o ‘Politico’ teve acesso, emitido no final de julho pelo Grupo de Resposta a Crises Globais da Organização das Nações Unidas (ONU), que foi criado em março pelo Secretário-Geral António Guterres para fazer frente ao aumento dos preços dos produtos agrícolas e da insegurança alimentar fruto da guerra da Rússia na Ucrânia.
O mesmo órgão de comunicação social diz que o documento agora visto é um email enviado no dia 4 de agosto por David Nabarro, enviado especial para a Covid-19 da Organização Mundial de Saúde (OMS), resumindo uma reunião do grupo especial realizada a 28 de julho.
Do conjunto de países que os especialistas estarão a olhar com maior preocupação estão a Colômbia, o Malawi, o Paquistão e Myanmar, levando o grupo especial a considerar que “os custos elevados das importações” estão a afetar o equilíbrio orçamental “de mais de 60 países”.
Nabarro terá escrito que “na Serra Leoa, o consumo de alimentos nutritivos pelas pessoas mais pobres está a diminuir, como resultado do aumento dos preços”, e salienta que cenários idênticos também “são verificados na Colômbia, no Congo, no Chade, no Equador, no Iraque, no Quénia, no Malawi e na Mauritânia”.
O documento explica que “organizações de consumidores relatam que os preços estão a aumentar cada vez mais rapidamente no Paquistão, em Myanmar, no Peru, no Malawi, no Burundi e na Nigéria, com um número cada vez maior de pessoas a pagarem mais para poderem responder a necessidades básicas”.
“Cerca de 12 governos estão em risco de falhar o pagamento de dívidas e muitos procuram oportunidades para alívio das dívidas”, escreve Nabarro.
Este grupo especial reuniu-se 13 vezes este ano, mas não há quaisquer referências à sua existência do site das Nações Unidas, adianta o ‘Politico’.
Em junho passado, a vice-Secretária-Geral das Nações Unidas, Amina Mohammed, alertou que “o mundo enfrenta uma crise de fome sem precedentes” e que a “insegurança alimentar severa está em máximos históricos”.
“Os efeitos do conflito na Ucrânia intensificaram o sofrimento humano para níveis nunca antes vistos, ameaçando com a fome global a uma escala sem precedentes”, denunciou Amina Mohammed.