“Nada será como antes na política global”, diz Vladimir Putin no Fórum Económico Internacional

O Presidente russo subiu esta sexta-feira ao palco do Fórum Económico Internacional, em São Petersburgo, e proferiu um discurso aceso repleto de críticas aos países ocidentais e de rejeição das acusações de que a Rússia é responsável pelas crises energética e alimentar.

“A mudança faz parte da História”, sublinhou Vladimir Putin, explicando que não pode ser um único centro de poder a decidir o rumo do mundo e dos países que dele fazem parte e que as relações internacionais atualmente apenas servem os interesses das nações ocidentais.

“Nas últimas décadas, o planeta viu emergirem novos centros de poder, cada um deles está a desenvolver as suas próprias instituições e economias”, diz Putin, frisando que hoje assiste-se a “alterações tectónicas na governação do mundo”, que “são impossíveis de contornar”.

“Não podemos acreditar que tudo será como dantes. Não, isso não vai acontecer”, afiança o líder russo, e acusa as elites políticas ocidentais de escolherem continuar a ignorar as mudanças no mundo. “Nada é eterno”, assevera Putin.

Aponta também que os países ocidentais consideram que todo o restante mundo é uma periferia e que “tratam esses países como se fossem as suas colónias” e que consideram esses povos como sendo “de segunda categoria”.

O Ocidente coletivo quer “esmagar economicamente aqueles que se recusam a adotar a sua ética, as suas visões económicas, pondo em questão a soberania e a integridade de vários países”, ameaçando a sua existência. Putin evoca a memória da Jugoslávia, bem como os conflitos na Síria e no Iraque para dizer que os países ocidentais “falharam” nesses locais.

Apontando que hoje o mundo é energizado por uma russofobia, diz que “as sanções são absolutamente inconcebíveis” e procuram esmagar a economia da Rússia, mas declara que “isso fracassou”, explicando que as autoridades e empresas russas têm conseguido normalizar a economia e os mercados financeiros no país.

“Somos uma nação forte e temos um povo forte. E conseguimos adaptar-nos”, garante Putin, a uma plateia que que o aplaude com entusiamo.

O Presidente russo diz que a inflação na Europa é um reflexo “do fiasco da sua política energética”, numa clara referência à decisão da UE para abandonar os combustíveis russos. “Não temos nada a ver com isso. Foram eles [os europeus] que causaram isso, e tentam transferir a responsabilidade para outros”, sentencia Putin.

A responsabilidade das disrupções das cadeias de abastecimento mundial de bens alimentares e de energia deve ser atribuída “aos Estados Unidos e à autocracia da União Europeia”, lança o líder do Kremlin.

Putin diz que a Rússia foi forçada a agir contra Ucrânia, para proteger os russos na região do Donbass, que “estão a sofrer genocídio às mãos de Kiev e dos neo-nazis, apoiados pelos países ocidentais”.

“A culpa não é nossa” foi uma expressão repetida várias vezes por Vladimir Putin, numa intervenção que pretende revelar que uma nova ordem mundial está a emergir e que o sistema de relações internacionais liberal que emergiu com o final da Guerra Fria está a colapsar, bem como as instituições que a sustentam.

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