“Fed vai continuar a lutar” contra receios de recessão e inflação, diz estratega

O comité de política monetária (FOMC, na sigla em inglês) da Reserva Federal dos EUA (Fed) decidiu, na quarta-feira, elevar a taxa de juro de referência em três quartos de ponto percentual (75 pontos-base) para o intervalo entre três por cento e 3,25%, o valor mais alto desde o início de 2008.

Após a decisão, o presidente da Fed, Jerome Powell, disse que os dirigentes do banco central “têm de estar muito confiantes em que a inflação está a recuar”, para o objetivo de 2%, antes de considerarem acabar com a subida da taxa.

Sébastien Galy, Senior Macro Strategist do Nordea Asset Management, disse, no rescaldo da reunião, que é esperado que “a inflação, depois de um período de persistência, se afunde muito mais rapidamente do que o esperado e aliviando o mercado de ações – mas, provavelmente, isto levará alguns meses”.

“Até lá, o mercado continuará a oscilar com receios de uma recessão e da inflação. A Fed vai continuar a lutar, principalmente porque ainda não sabe quanto é necessário com a forte procura ainda subjacente. As empresas simplesmente ainda não ajustaram a sua política de preços a um abrandamento económico global”, acrescentou.

Powell apontou ainda que a força do mercado laboral está a alimentar ganhos salariais, que estão, por sua vez, a pressionar os preços no sentido da alta. Sobre isso, o estratega analisa que “a Fed considera o consumo moderado, mas a realidade é que apenas as famílias mais pobres estão a retrair-se face a uma queda nos salários, as mais ricas estão seguras nos seus grandes ganhos no mercado de ações e imobiliário, acumulados ao longo de quase duas décadas. Como consequência, os inventários são grandes, à medida que os retalhistas foram comprando, e as famílias mais pobres estão relutantes em comprar bens sobrevalorizados”.

“Porquê comprar um brinquedo caro, quando na realidade é absolutamente necessário comprar leite? A consequência é que a procura subjacente é demasiado forte num momento em que, como a Fed indica, os problemas da cadeia de abastecimento estão a melhorar mais lentamente do que o esperado. Os custos de envio estão em baixa, mas não muito, atrasando uma diminuição de atividade, uma vez que muitos estão relutantes em baixar o preço dos seus serviços. Isto deverá melhorar com o tempo”, acrescenta.

A previsão do estratega é que, depois de um período de inflação relativamente persistente, “as famílias e especialmente as empresas mudem as expectativas e especulem sobre uma possível recessão, conduzindo a um alívio rápido da inflação. A capacidade da Fed gerir um arrefecimento – e evitar uma recessão – depende em grande parte de controlar a narrativa, nomeadamente uma taxa terminal, que é bastante incerta, e dar às empresas a confiança de que este se trata apenas de um choque temporário”.

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