Accenture Digital Business: Descobrir onde está o valor
As inovações tecnológicas estão a criar potencial em todos os sectores. Para o transformar em valor, as empresas precisam de pôr a inovação a funcionar, à velocidade certa. Mas muitas não o conseguem.
Na verdade, o retorno dos investimentos em inovação desceu 27% nestes últimos cinco anos de acordo com o estudo da Accenture “Unlocking Trapped Value of Innovation Investments”.
Contudo, um grupo de empresas, com base em 14% dos membros do conselho de administração inquiridos está a transformar em valor e com sucesso os seus investimentos em inovação.
Portanto, o que é que estas empresas de alto crescimento estão a fazer que as outras não fazem?
As empresas de alto crescimento adoptam uma abordagem diferente para a inovação que as ajuda a transformar em valor os investimentos em inovação. A abordagem defendida pela administração é:
- Direccionada para a mudança. Ter a coragem de aplicar inovação com mais intensidade para reinventar formas existentes de trabalhar, atingindo assim uma mudança organizacional mais profunda.
- Estimulada por resultados. Apoiar os esforços de inovação em todo o negócio e ter disciplina para os ligar com rigor ao desempenho financeiro.
- Centrada na disrupção. Criar um compromisso para investir com mais agressividade, ao longo do tempo, em iniciativas de inovação verdadeiramente disruptivas com potencial para criar mercados novos.
A INOVAÇÃO DESBLOQUEIA VALOR
Descobrir oportunidades – Em mudanças tecnológicas exponenciais
O desempenho das tecnologias avançadas face ao custo está a melhorar exponencialmente. Como é natural, esta tendência apresenta maiores oportunidades para a criação de valor.
Aumentar investimentos – Expor a procura de novas oportunidades
De uma forma geral, os investimentos em inovação estão a subir. As 100 maiores empresas a nível global (por valor de mercado) aumentaram o investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) em 6% CAGR entre 2012 e 2017 – de 317 mil milhões de euros para 401 mil milhões de euros.
Entre incumbentes e startups, foram gastos 2,8 biliões de euros em actividades relacionadas com a inovação nos últimos cinco anos (cobrindo I&D, F&A tecnológicas e fundos de capital de risco).
E a tendência irá continuar. A maioria dos executivos espera que as suas empresas aumentem os investimentos em inovação em mais de 25%, de 2017 a 2022. E quase um terço espera aumentar os seus investimentos em inovação em mais de 50% – 1,8 vezes mais em comparação com os últimos cinco anos.
Muitas empresas falham – Não conseguem transformar as oportunidades em valor
A maioria das empresas não vê um retorno do investimento em inovação proporcional ao investimento feito. Porquê? Apesar dos investimentos, a maioria das empresas aproveita apenas algumas margens.
62% dos inquiridos afirmaram que a maioria dos seus investimentos será para inovação incremental. Com base na experiência da Accenture, esse enfoque incremental não chega para aproveitar as oportunidades criadas por novas tecnologias.
Com a melhoria contínua de tecnologias avançadas, a diferença entre o que a tecnologia torna possível e a capacidade das empresas para interiorizarem vai continuar a crescer. O resultado é um fornecimento regular de “valor retido” – valor que os negócios podiam desbloquear e partilhar se pudessem mudar mais depressa e de uma forma mais fundamental.
Valor retido – Pode ser desbloqueado em quatro áreas
A inovação deve ser aplicada de formas novas e diferentes para criar eficazmente valor.
1) Empresa
O valor retido na empresa existe quando uma oportunidade económica é visível, mas não é possível de alcançar no momento (ou seja, não pode ser desbloqueado por modelos).
2) Sector
O valor retido do sector existe quando apenas algumas empresas estão a colher benefícios, ou onde não são procuradas parcerias que acelerem a inovação.
3) Consumidor
O valor retido do consumidor existe quando há um peso do custo para o consumidor ou excedente subjacente do consumidor (por exemplo, rentabilizar bens pessoais).
4) Sociedade
O valor retido da sociedade existe quando as actividades comerciais não criam benefícios para o público em geral (por exemplo, redução de emissões de carbono, criação de emprego, segurança alimentar e da água).
USAR UMA ABORDAGEM DE INOVAÇÃO DISTINTA
Como os 14% de empresas de alto crescimento colocam a inovação a trabalhar? Quais as empresas que estão a aproveitar valor retido, e como o conseguem fazer?
A pesquisa da Accenture esperava conseguir dar resposta às seguintes perguntas principais:
- Quais as empresas que estão a desbloquear valor retido?
- O que podem as outras empresas aprender com as suas estratégias e características?
Abordámos estas duas perguntas em duas fases:
- A primeira fase envolveu definir onde se encontra o valor retido, e depois analisar especificamente o valor retido da empresa: o crescimento das operações actuais (Valor Actual) e as expectativas dos investidores (Valor Futuro) de 995 das maiores empresas em receitas de 14 sectores. Descobrimos que crescer robusta e consistentemente é difícil para a grande maioria das empresas.
- Segundo, para calcular os factores que desbloqueiam valor retido, fizemos uma análise a mais de 170 fontes, abrangendo 60 anos de reflexões de académicos, líderes e especialistas do sector. Identificámos um conjunto de 49 práticas de inovação, com base na experiência da Accenture com clientes que lideram o seu sector. Estas práticas de inovação formaram a base da análise da Accenture ao valor retido, enviada a executivos de 840 das maiores multinacionais mundiais.
Alto crescimento – São poucas e cada vez menos
Apenas 14% das empresas do inquérito da Accenture cresceram, e devem crescer, nos lucros (NOPLAT) e na capitalização de mercado acima da média:
14% das empresas de alto crescimento: Reportaram um crescimento de NOPLAT e de capitalização de mercado no CAGR acima da média do sector, de 2012 a 2017 e esperado para 2017 a 2022.
86% das outras empresas: Reportaram um crescimento de NOPLAT e de capitalização de mercado no CAGR na média ou abaixo da mesma do sector, de 2012 a 2017 e esperado para 2017 a 2022.
Inovação para a mudança – Reinventar novas formas de fazer negócio
Muitas empresas vêem a inovação como uma questão de inspiração ou de imaginação que acontece fortuitamente. Na verdade, 53% dos inquiridos no estudo da Accenture partilharam esta perspectiva, reportando que vêem a inovação como “um processo criativo ad-hoc”. Por outro lado, as empresas de alto crescimento aplicam uma inovação mais persistente, e exigem coragem para mudar a organização. Isto significa que aplicar a inovação não serve apenas para criar produtos e serviços mas também para atingir uma mudança organizacional profunda.
Testámos a adopção de 49 práticas de inovação:
- Desenvolver as capacidades da liderança sénior para supervisionar a mudança estimulada pela inovação;
- Foco na criação de pequenas equipas transversais;
- Utilização de design thinking para desenvolver produtos e serviços que giram à volta da experiência do cliente;
- Colaboração com os clientes no processo de inovação para identificar oportunidades comerciais de grande potencial;
- Utilização de agentes cognitivos/ consultores virtuais (com base na inteligência artificial) em actividades direccionadas para o cliente;
- Utilização de novos veículos como os CVC, aceleradores e incubadores, e laboratórios de ideias.
As sete características
As empresas de alto crescimento aplicam as práticas de inovação para mudar a forma de fazerem negócio, para que se tornem:
1) Hiper-relevantes Saber como ser (e permanecer) relevante detectando e abordando as necessidades dos clientes.
2) Suportada por redes Aproveitar o poder de um ecossistema cuidadosamente gerido por parceiros, de forma a levar aos clientes as melhores inovações.
3) Impulsionada pela tecnologia Dominar tecnologias inovadoras que possibilitam a inovação do negócio.
4) Talento Desenvolver novas formas de trabalho para ganhar em mercados competitivos.
5) Data driven Gerar, partilhar e utilizar dados para oferecer inovações nos produtos e serviços com segurança.
6) Inclusiva Adoptar uma abordagem inclusiva para a inovação e o governance que integra uma gama mais abrangente de stakeholders.
7) Inteligente a gerir os bens Adoptar uma gestão inteligente de bens e operações para gerir os negócios o mais eficientemente possível, e para libertar capacidade para outros esforços inovadores.
Novas formas de fazer negócio
As empresas de alto crescimento aplicam inovação com mais intensidade em comparação com outras empresas. Isto é particularmente evidente no seu foco em mudar a forma de trabalhar com o seu ecossistema.
Para a mudança – Bosch
O Grupo Bosch, a gigante industrial alemã com 133 anos, tornou a Internet of Things o principal foco para o futuro.
Em Fevereiro de 2018, o CEO revelou um laboratório de inovação IoT em Berlim. No entanto, a Bosch começou a investir na IoT em 2008, com a aquisição daquilo que se tornou a Bosch Software Innovations. Essa subsidiária concebeu e desenvolveu 250 projectos internacionais de IoT e esses projectos e iniciativas subsequentes foram – e continuam a ser – comparadas com benchmarks rigorosos para se saber o retorno do investimento.
A Bosch não se limita a oferecer essas inovações aos clientes; usa-as para mudar a maneira como trabalha. A empresa experimentou mais de 100 inovações de IoT nas suas próprias fábricas.
A estratégia está a dar frutos: em 2017, vendeu 38 milhões de produtos ligados à web. O Bosch IoT Suite liga 6,2 milhões de sensores, aparelhos e máquinas com aplicações de utilizadores e empresas. No final da década, revela, todas as suas classes de produtos eléctricos estarão ligados à internet. A Bosch viu as suas receitas crescerem 12% e o EBITA em quase 30% (CAGR) entre 2012 e 2017.
Estimular por resultados – Ligar os esforços de inovação ao desempenho financeiro
As empresas de alto crescimento aplicam a inovação de forma mais abrangente. Designadamente, 76% dos executivos da administração dessas empresas reportam ter planos para adoptar práticas de inovação que os fazem dominar mais de uma das sete características. À medida que as empresas de alto crescimento aplicam mais inovação no negócio e dominam mais características, aumentam as suas expectativas para os lucros.
As empresas de alto crescimento concentram-se em dominar uma característica que deve fazer crescer os seus lucros (em média), dentro da margem de 6 a 10% CAGR. Entretanto, os que se concentram em dominar as sete características devem ver os seus lucros crescer mais de 16% CAGR.
Estimulada pelos resultados – Nike
As cadeias de abastecimento da empresa tornaram-se mais suportadas por redes. Desde 2015 que trabalha com a fabricante global Flex para automatizar os seus processos de fabrico de calçado. Usando robótica avançada e digitalização, produz agora um par completo de ténis em 30 segundos, com 30% menos passos e até 50% menos trabalho. A Nike desenvolveu também a sua capacidade de ser hiper-relevante e servir os clientes mais eficazmente ao detectar e abordar as suas necessidades. A empresa investiu numa nova estrutura interna como parte da sua estratégia Consumer Direct Offense, criando uma organização integrada design-à-produção que consolida Categorias, Design, Producto e Merchandising. A plataforma digital Nike+ também melhora a capacidade da empresa de reunir e analisar dados.
Por fim, a Nike está focada em ser um negócio inclusivo e responsável. O Nike Grind (uma paleta de materiais reciclados premium) é usado em 71% do calçado e vestuário Nike, em tudo, desde fios e revestimentos a kits de futebol e ténis de basquetebol.
Desenvolver estas características ajudou a Nike a ultrapassar as S&P 500 nos últimos cinco anos. Entre Abril de 2013 e Outubro de 2018, a avaliação das S&P 500 cresceu 64%, mas a Nike mais que duplicou a sua capitalização de mercado.
Inovação com disrupção – Investir em iniciativas de inovação disruptivas
Quando a volatilidade do ambiente de negócios aumentou, os investidores pressionaram as empresas para a inovação. No entanto, há quem argumente que estão a ficar pior. O estudo da Accenture afirma inclusive que procuram a inovação mais por uma questão de relações públicas do que como objectivo.
As empresas de alto crescimento investem mais do que as outras, tendo em mente a inovação disruptiva. Os seus investimentos focam- -se em avanços comerciais e científicos que podem criar mercados, com potencial de disrupção. Entretanto, os seus pares estão mais concentrados na inovação incremental – melhorando o “que já existe”.
Centrada na disrupção – Softbank
O Vision Fund do SoftBank, fundo tecnológico do grupo japonês, está focado em “investimentos a longo prazo em empresas de negócios de plataformas que procuram criar a próxima era de inovação”. O fundo está activo numa série de tecnologias “limítrofes”, como robótica, IA e biologia computacional.
O Vision Fund investiu 440 milhões de euros na Improbable, cuja plataforma, a SpatialOS, é usada para correr mundos simulados em grande escala.
A plataforma está agora a tornar possível que organizações desenvolvam simulações baseadas em agentes (com base em indivíduos, grupos ou organizações autónomas) na cloud para melhorar as decisões. Isto inclui uma simulação de toda a estrutura subjacente da internet, criada para testar o que aconteceria se a estrutura base da web fosse atacada.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 154 de Janeiro de 2019.