Clara Raposo, ISEG: As maiores mudanças na Gestão em Portugal

1. Quais os grandes desafios ao nível da Gestão, nestes últimos 15 anos?

Quando puxo pela memória, e penso naquilo que era como pessoa e como profissional há 15 anos atrás, chego a duvidar de mim mesma. Mudei assim tanto? E não me refiro apenas ao espelho e alguma ínfima ruga ou cabelo branco isolado que desponte… não. Refiro-me mesmo aos hábitos, às práticas e às preocupações. De certeza que isto não me acontece só a mim nem apenas a pessoas que, como eu, estão ligadas à universidade, à formação, à investigação, às finanças ou à gestão. O sentimento de profunda mudança interior é intenso e partilhado.

Essa percepção de transformação que sentimos em termos individuais é também sentida ao nível das organizações. Nestes últimos 15 anos tornámo-nos mais digitais e mais internacionalizados. E passámos a ter uma vida virtual mais rica porque as plataformas web e as redes sociais passaram a conectar-nos de formas diferentes – pessoas e organizações, numa alteração da concepção do que é informação pública ou privada, quer a nosso respeito quer a respeito das nossas organizações.

2. Que principais mudanças nas empresas, e no seu sector em particular?

A gestão nestes últimos 15 anos, nos mais diversos sectores, confrontou-se com as dores de crescimento da globalização, com uma profunda crise do sector financeiro e com a consciencialização da necessidade de uma séria transformação digital dos negócios. Mais recentemente, tivemos novos desafios que afectaram o sector da educação, mas também todos os outros – novas gerações que, de forma silenciosa, questionam os nossos modelos de vida, de trabalho e de “carreira”; os chamados “talentos” que exigem atenção e ambicionam um diferente equilíbrio work-life, por comparação com a velha geração yuppie. Outra grande transformação: as nossas empresas passaram a olhar de forma mais assumida para os seus profissionais não apenas com base naquilo que fazem e sabem fazer, mas também tendo em conta a forma como o fazem e comunicam – e todos quiseram desenvolver “soft skills” e capacidades de liderança. E, logo a seguir, competências digitais.

Mais recentemente, novos desafios se afirmaram. A começar pela maior instabilidade política nos últimos cinco anos nas relações entre as grandes potências mundiais, que alterou a previsibilidade de negócios e a significativa actividade empresarial que depende de cadeias distribuídas por diferentes partes do globo. Depois, veio uma maior consciencialização – embora no meio empresarial nacional ainda haja alguma “falsa aceitação” – da chamada crise climática e da necessidade de alteração de modelos de negócio para áreas que respondam ao desafio da sustentabilidade. Não contentes com isso, chegou há pouco mais de um ano uma pandemia que foi o maior acelerador que alguma vez tivemos de transformação digital transversal a imensos sectores de actividade, bem como um catalisador de novas formas de trabalho – em particular de teletrabalho – em condições que não teríamos imaginado: com filhos pequenos em casa, com proibição de ida ao escritório, com reuniões sucessivas em zoom, à espera de uma vacina…

3. Em que medida é que a Executive Digest serviu de “ferramenta” para os gestores portugueses?

E aqui chegámos. Quinze anos depois de os fundadores da Executive Digest terem trazido ao meio empresarial (e não só) português uma forma de comunicação que fez escola e permitiu que nos conhecêssemos melhor enquanto comunidade empresarial e enquanto sociedade. A Executive Digest ocupa, hoje, um espaço que é só seu e que muitos já não dispensam. Para além de artigos de actualidade e com carácter pedagógico, em que se partilham as melhores práticas e casos que servem de exemplo ou de alerta a outros gestores, a Executive Digest mobiliza um crescente número de executivos e executivas que, na revista e no formato digital, se sentem parte de uma comunidade que partilha a vontade de fazer mais pelas suas organizações, pelas suas pessoas e pelo nosso país. Os eventos da Executive Digest são sempre marcantes e arrojados.

Enquanto o enfoque da minha carreira foi mais “académico”, lia a Executive Digest com curiosidade, para saber o que pensavam os nossos executivos e, de certa forma, melhor enquadrar os meus projectos de investigação, o meu ensino e os novos programas de formação a desenvolver. Mais recentemente, quando me tornei “executiva”, na presidência do ISEG, passei a partilhar também os interesses dos outros leitores: as lições da gestão, a identificação dos desafios, a opinião, o debate. E passei também a dar o meu modesto contributo. No verão de 2019 o Ricardo Florêncio convidou-me para integrar o Conselho Editorial e creio ter sido até a primeira mulher a sentar-se à mesa naqueles almoços e reuniões com os “old boys” (em belíssimo estado, claro!, e de uma extrema delicadeza). Mais um sinal dos tempos, com a Executive Digest a estabelecer novos padrões. Tem sido uma experiência muito enriquecedora para mim – partilhamos informação, conhecimento, ideias e opiniões com franqueza, discutimos os assuntos da ordem do dia sem subterfúgios e o objectivo final é sempre o mesmo: descobrir como fazer melhor.

Parabéns à Executive Digest por estes 15 anos ímpares no panorama editorial português, a puxar pelo melhor que os nossos executivos e executivas têm para dar – Venham mais 15!

Este artigo faz parte do Tema de Capa publicado na Revista Executive Digest n.º 181 de Abril de 2021

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