«A tendência de mercado atual vai acabar em lágrimas», diz o economista Nouriel Roubini
Nouriel Roubini olha com alguma preocupação para o aparente otimismo dos mercados – sejam empresas ou governos – relativamente à recuperação económica. O economista norte-americano é conhecido por ter antecipado a crise de 2007/08 e por ter conquistado a alcunha de Dr. Doom graças às suas previsões catastróficas.
Agora, volta a dar que falar ao alertar para os riscos da pandemia de Covid-19 na economia a nível global, sublinhando que todos parecem ignorar as potenciais consequências a médio e longo prazo.
«Com as bolsas a alcançar novos máximos num contexto de crescente desigualdade de receita e riqueza, deveria ser óbvio que a tendência de mercado atual terminará em lágrimas, reproduzindo as injustiças económicas do colapso de 2008», afirma Nouriel Roubini, num artigo publicado no Project Syndicate.
Citado pelo El economista, o especialista refere que, apesar de toda a conversa em torno dos apoios às famílias, serão as pessoas comuns que mais sofrerão «quando a música parar». O também professor da Universidade de Nova Iorque explica que as pessoas com empregos estáveis a tempo inteiro, com benefícios e margem financeira estão numa boa posição. Por outro lado, os trabalhadores do setor dos serviços, com cargos de baixo valor agregado, desempregados ou sobrecarregados com dívidas, com uma saúde financeira precária, apresentam perspetivas económicas cada vez piores.
Nouriel Roubini não tem dúvidas de que a recuperação será longa e muito desigual, estando já a acontecer em forma de K. «A desigualdade aumentou com a ascensão dos gigantes tecnológicos. Perdem-se até três postos de trabalho no retalho por cada um que a Amazon cria e há uma dinâmica semelhante noutros setores dominados por gigantes tecnológicos, embora o stress social e ecónomico atual não seja nada de novo», escreve o economista.
Os trabalhadores com perfis mais digitais, que conseguem trabalhar à distância e que têm formação sofrem menos com o impacto da pandemia e podem até beneficiar da recuperação. No sentido inverso, aqueles com menos formação e que não podem recorrer ao teletrabalho estão em perigo.
Segundo Nouriel Roubini, a solução para o problema da desigualdade foi, durante décadas, democratizar as finanças, para que as famílias mais pobres pudessem ter acesso a empréstimos, por exemplo. No entanto, o acesso ao crédito levou a uma bolha que resultou na crise financeira de 2008. No futuro, «tal como em 2008, o resultado inevitável será outra bolha de ativos».