Próxima semana à lupa: Dos mercados à economia – e outras coisas que precisa de saber

A semana que vem será bastante atribulada, com várias reuniões de bancos centrais, com o início do pagamento dos cheques de $1400 às famílias americanas e o início das medidas de desconfinamento em vários países da europa, incluindo Portugal.

Na quarta-feira será a vez da Fed entrar em ação. Depois do BCE ter surpreendido o mercado esta semana, ao anunciar planos para compra de obrigações a um ritmo significativamente superior, a Fed poderá seguir os mesmos passos e tomar medidas que contrariem o aumento das yields a 10 anos americanas. Existem várias opções em cima da mesa, mas uma das medidas possíveis poderá ser o prolongamento do SLR (Supplementary Leverage Ratio) para além de 31 de março, permitindo assim aos bancos um alívio no cumprimento dos rácios de capital, apesar de cada vez mais democratas demonstrarem preocupação sobre o tema.

Num cenário de não prolongamento poderíamos assistir a vendas de até US $700 mil milhões em títulos do Tesouro americano, já que as reservas em dólares serão disponibilizadas nos próximos meses. Uma segunda opção seria uma operação Twist como forma de mitigar a pressão negativa sobre as obrigações de mais longo prazo. Por último, a Fed poderá decidir avançar para um WAM de 10 anos, o que poderia ter um efeito temporário nas yields, mas que poderá não funcionar tão bem como em 2011-2012, pois a economia está a ganhar momentum, o que geralmente leva a yields das obrigações mais elevadas, e não mais baixas. No geral, abordamos a reunião da FOMC da quarta-feira como sendo mais hawkish para o USD e, portanto, dever-se-á favorecer posições curtas no par cambial EUR/USD.

O Banco da Inglaterra e o Banco do Japão também se reunirão na próxima semana. O Banco do Japão apresentará a revisão dos instrumentos de política monetária, o que pode ter repercussões importantes nos mercados globais. O BoJ tentou persuadir os mercados de que esta revisão visa apenas aumentar a flexibilidade do banco para conter novos choques potenciais, mas os mercados de obrigações reagiram de forma diferente, com as yields a 10 anos a negociarem 15 pontos base acima, há poucas semanas. A política do Banco do Japão tornou-se terrivelmente “pró-cíclica”, uma vez que compra mais obrigações quando as yields das mesmas aumentam e compra menos quando as yields caem. Já o Banco de Inglaterra deverá enaltecer o bom momento da economia e do programa de vacinação, adotando um tom ainda mais otimista do que em fevereiro.

Teremos ainda a reunião do Banco Central da Noruega (Norges Bank) que deverá sinalizar um primeiro aumento das taxas em dezembro deste ano, com a probabilidade de que ocorra já em setembro. Além disso, poderemos esperar uma revisão em alta das principais projeções económicas, principalmente devido à subida dos preços do petróleo, mas também pelo programa de vacinação.

Por último, na Suécia, o Riksbank (Ingves e Jansson) terá uma audição no comitê de finanças do Riksdag, e na terça-feira de manhã serão lançados dados sobre os índices dos gestores de compras e sobre o mercado de trabalho. As expectativas de inflação são fulcrais para o Riksbank, e há um risco de a inflação sair abaixo do esperado durante o segundo trimestre.

Henrique Tomé, analista XTB

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