Não abra, não semeie. Pacotes misteriosos de sementes recebidos pelo correio são acção de marketing
O Ministério da Agricultura já deu o alerta esta terça-feira: se recebeu no correio pacotes de sementes de países asiáticos não solicitados, não as semeie nem as deite ao lixo. É uma situação que está a ser reportada em vários países da Europa e também já se verificou nos Estados Unidos. Não é uma novidade para a sub-directora da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Paula Carvalho, que diz tratar-se de uma acção de marketing perigosa.
“Este envio não terá que ver com qualquer intenção de bio-terrorismo. Os países que têm os pacotes nas mãos – e já fizeram as suas investigações – concluíram que os pacotes estarão a ser enviados por empresas de venda pela Internet que, para terem uma boa classificação no que diz respeito ao volume de vendas e à satisfação dos clientes, enviam estes pacotes”, explica em declarações ao jornal Público.
O Ministério da Agricultura alertou esta terça-feira para o envio postal destes pacotes de sementes, pedindo que sejam reencaminhados para as direcções de agricultura. Além das sementes de várias espécies, as embalagens podem conter solo, larvas mortas ou estruturas de fungos.
As empresas ecommerce “usam sementes porque são leves, o que reduz os custos de envio, e mandam-nos para pessoas que não os solicitaram, aparecendo muitas vezes identificados como jóias ou relógios. Quando os abrem, vêem as sementes”, esclareceu ainda Paula Carvalho.
Na verdade, trata-se de uma táctica comercial chamada “brushing”, isto é, as “empresas de comércio electrónico estão a tentar ludibriar esse sistema enviando elas próprias as encomendas sem serem solicitadas”, explicou a sub-directora da DGAV à Rádio Renascença.
O objectivo é aumentar a cotação de vendas. “Aquilo que nos parece será apenas uma questão comercial, de interesse dessas empresas terem boas classificações em termos de vendas online”, acrescentou.
Segundo o Ministério do Ambiente, as embalagens em causa acarretam “sérios riscos do ponto de vista da sanidade vegetal, pela possibilidade de veicularem pragas e doenças ou ainda pelo perigo de se tratarem de espécies nocivas ou invasoras”.
Neste sentido, as sementes não devem ser semeadas ou colocadas no lixo, mas entregues num serviço regional da DGAV ou numa Direcção Regional de Agricultura e Pescas.
“Caso não seja possível a entrega em mãos, agradece-se que estas sementes sejam enviadas com a embalagem original, incluindo a etiqueta de expedição, para a DGAV (Campo Grande 50 – 1700-093 Lisboa), devendo ser indicado um contacto tendo em conta a eventual necessidade de recolha de esclarecimentos adicionais”, ressalvou o Governo.
Recorde-se que no final de Julho, os Estados Unidos receberam uma ‘onda’ de pacotes de sementes misteriosas, vindos da China.