O que esperar de 2024?: Vítor Ribeirinho, KPMG Portugal

Testemunho de Vítor Ribeirinho, CEO/Senior partner da KPMG Portugal

1. Que alterações perspectiva que possam vir a impactar o seu sector em 2024?

Olhando para 2024, identifico quatro aspectos que acredito que poderão vir a ter um importante impacto na economia nacional e no grau de confiança das empresas. Desde logo as eleições na Europa, nos EUA e claro as nossas legislativas de 10 de Março e o nível de estabilidade política que delas sairá, assim como as políticas económicas que serão adoptadas a partir daí em Portugal, nomeadamente eventuais orçamentos rectificativos. Também as decisões do BCE em relação às taxas de juro serão relevantes para o nível de optimismo das empresas e das famílias. As perspectivas são melhores que no último ano, havendo a expectativa de poder haver uma redução das taxas de juro até ao final deste ano, o que seriam boas notícias para todos, no entanto ainda há um certo grau de incerteza em volta deste tema, sobretudo no que diz respeito ao seu reflexo na evolução da inflação.

Em paralelo, importa perceber a evolução dos conflitos internacionais, com destaque para as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza que impactam os mercados, as cadeias de abastecimento e consequentemente as perspectivas dos vários sectores de negócio.

Por fim, é fundamental acompanhar os principais desenvolvimentos daquela que é uma das tecnologias mais impactantes no dia-a-dia das empresas: a inteligência artificial. Perspectivam-se avanços importantes ao longo deste ano, não só a nível técnico, mas também numa óptica de regulação e discussão sobre os princípios éticos, ao nível da UE, cujas decisões terão um impacto importante também nos vários sectores.

2. E para a sua empresa em particular, quais os maiores desafios?

Na KPMG Portugal temos tido crescimentos, em dois dígitos, consecutivos das nossas três áreas de negócio nos últimos anos e o principal desafio é, não só manter este nível de crescimento também em 2024, mas fazer com que através destes bons resultados possamos continuar a contribuir para o desenvolvimento do nosso país e da nossa economia, seja através do investimento nos nossos jovens, seja pela aposta na inovação ou na descentralização da nossa actividade fora da grande Lisboa e Porto.

Não obstante em 2022 e 2023 termos empregado mais de 900 novos colaboradores na KPMG Portugal, o recrutamento continua a ser um dos principais desafios, pela dificuldade que existe de as empresas portuguesas poderem equiparar as suas ofertas às de outros países europeus que, com cargas fiscais mais reduzidas, conseguem ter uma capacidade remuneratória muito superior, como acontece no Reino Unido, Irlanda ou Países Baixos.

Precisamente para podermos continuar a desenvolver talento em Portugal, temos vindo a apostar na descentralização dos nossos serviços, e inaugurámos no ano passado o nosso Hub Tecnológico em Évora, focado na tecnologia low-code e que pretende apostar no talento da região para o desenvolvimento de projectos para todo o mundo, a partir do Alentejo. Este novo espaço endereça, assim, dois dos principais desafios identificados para este ano: a inovação tecnológica, na qual as nossas equipas trabalham diariamente, com o desenvolvimento de soluções que possam de facto ser uma mais-valia para os nossos clientes, e a internacionalização, que nos irá permitir continuar a crescer e a investir, não só nas nossas pessoas, mas em Portugal.

3. Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?

É um exercício desafiante podermos falar das expectativas macroeconómicas em cenários de elevada incerteza nacional e internacional. Ainda assim, e olhando para as projecções do ainda actual Governo, no âmbito do Orçamento do Estado para 2024 e da Comissão Europeia, é unânime que devemos ter um crescimento da economia portuguesa, na ordem dos 1,3% a 1,5%, ou seja inferior ao de 2023 e muito longe do registado em 2022. Um outro aspecto que também será central na nossa performance, podendo até atenuar esta tendência, estará necessariamente ligado à capacidade de podermos acelerar os níveis de execução do Plano de Recuperação e Resiliência e dessa forma contribuir para a dinamização da nossa economia.

Esperam-se boas notícias no que diz respeito à evolução da inflação, com perspectivas de um recuo abaixo dos 3% em 2024, o que poderá ter um impacto importante na decisão do BCE sobre as taxas de juro e, eventualmente, podermos assistir a uma diminuição até ao final deste ano.

Uma possível redução das taxas de referência irá ter um impacto positivo no consumo privado, por intermédio da redução das prestações do crédito à habitação, e também nos níveis de poupança da população.

Por outro lado, dado o menor dinamismo do contexto internacional e da procura externa, perspectiva-se um abrandamento no crescimento que se tinha vindo a verificar nos últimos anos no mercado exportador.

Estas perspectivas dão origem a uma dupla visão em relação ao comportamento da economia nacional em 2024: por um lado, existe um certo optimismo por parte das empresas, que é justificado pelo crescimento do PIB e pelo abrandamento da inflação, mas por outro assistimos a uma sensação de calculismo, fruto do contexto de incerteza nacional e internacional.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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