O que esperar de 2024?: Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa

Testemunho de Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa

1. Que alterações perspectiva que possam vir a impactar o seu sector em 2024?

Estando a maioria das empresas do Grupo Bernardo da Costa integradas no sector tecnológico, é sobre este que vou focar a minha análise. O mundo evoluí a um ritmo alucinante e um dos responsáveis é a tecnologia.

As organizações têm de se preparar para o que aí vem sob pena de ficarem para trás, o que poderá levar a que os seus concorrentes os ultrapassem. Naturalmente, nem todas as previsões que vão sendo lançadas impactam as organizações da mesma maneira, mas é imperativo que se preparem para não serem apanhadas desprevenidas.

Acredito que a inteligência artificial será responsável pelas maiores alterações neste sector em 2024. A inteligência artificial é hoje reconhecida como uma tecnologia-chave para impulsionar a inovação e a diferenciação no mercado. Ao investirem em inteligência artificial, as empresas procuram não apenas melhorar a eficiência operacional, mas também ganhar maiores vantagens competitivas.

No caso específico das tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, a cloud, os dados e a segurança, as competências necessárias são complexas e em constante evolução. As empresas precisam de investir em formação e desenvolvimento das suas pessoas, para garantir que têm as competências necessárias para utilizar estas tecnologias de forma eficaz.

2. E para a sua empresa em particular, quais os maiores desafios?

Para o Grupo Bernardo da Costa, o maior desafio irá ser também o do uso da inteligência artificial, tanto na dinâmica actual do mercado, como também para o desenvolvimento de soluções disruptivas e inovadoras. No entanto, é preciso que tenhamos algumas precauções, considerando que da mesma forma que a tecnologia nos ajuda a pensar e a estruturar novas e infinitas possibilidades, também tende a criar uma distância entre as pessoas, prejudicando o contacto físico e presencial, reduzindo também, toda a troca valiosa que o trabalho presencial proporciona às empresas.

Por outro lado, acredito que em 2024 o mercado vai começar a valorizar cada vez mais a “experiência do cliente”, ao mesmo tempo o fenómeno dos nichos, tende a crescer. É fundamental eliminar processos irrelevantes e burocracia excessiva, que perdem espaço quando a atenção das pessoas dura pouco e os desejos de consumo são direccionados por alguns caracteres e vídeos de um minuto.

Por último e não menos importante, atrair talento é outro grande desafio. Fomos a primeira empresa em Portugal a criar um departamento da felicidade, que em conjunto com a nossa cultura organizacional, permite que tenhamos uma forte capacidade de atracção de talento, no entanto é muito importante a aposta na inovação e ser ágil na adaptação, bem como um olhar muito atento para aquilo que é mais valorizado pelas diferentes gerações. Ao mesmo tempo é necessário garantir a qualificação e formação das pessoas, de forma a estarem preparadas para todas as transições e alterações que estão a acontecer no mercado e no mundo.

3. Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?

O ano de 2024 impõe desafios significativos às empresas portuguesas, não apenas devido às situações de conflito armado e mudanças geopolíticas que enfrentamos a nível mundial, mas também devido à instabilidade política que vivemos em Portugal.

Apesar disso, acredito que a economia portuguesa continuará a crescer em 2024, no entanto a um ritmo inferior ao que aconteceu em 2022 e 2023, em linha com a desaceleração esperada para a zona euro, numa altura em que a guerra na Ucrânia e o novo conflito entre o Hamas e Israel continuam a pesar no sentimento económico.

Há um grande debate sobre o ritmo de queda das taxas de referência, mas não há grandes dúvidas de que deverão começar a baixar. Assim, isso deverá aliviar o consumo privado, com a redução das prestações do crédito à habitação, para além de permitir uma recuperação do investimento.

Espero também avanços concretos dos investimentos associados ao Plano de Recuperação e Resiliência e Quadro Comunitário de Apoio PT2030. Em conjunto com as medidas de fomento da habitação, podem, no meu entender, ser um forte estímulo ao crescimento.

Os últimos dados disponíveis indicam que a carteira de encomendas das empresas exportadoras portuguesas, para o primeiro semestre de 2024 não se compara com a que tinham no ano anterior, no entanto acredito que as exportações podem voltar a crescer, ainda que de forma limitada, interrompendo as quedas dos últimos meses, uma vez que a economia da União Europeia poderá recuperar do ano muito fraco que agora terminou, embora não deva ainda conseguir crescer em linha com a tendência de médio prazo.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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