O que esperar de 2024?: Ana Figueiredo, Altice Portugal

Testemunho de Ana Figueiredo, Presidente executiva da Altice Portugal

1. Que alterações perspectiva que possam vir a impactar o seu sector em 2024?

Nos últimos anos temos assistido a um acelerar do ritmo do desenvolvimento tecnológico, com ciclos de inovação cada vez mais curtos. Esta realidade tem impacto nos diversos sectores económicos e na sociedade em geral e, em particular, no sector das comunicações electrónicas. A título de exemplo, podemos destacar em 2023 uma crescente discussão pública sobre a adopção, limites e impactos no rápido desenvolvimento de soluções com recurso à inteligência artificial generativa e ao surgimento de vários casos de uso de aplicação desta tecnologia em diversas finalidades.

Em 2024, com toda a certeza, iremos assistir a um cenário de continuidade na inovação tecnológica, com especial ênfase na inteligência artificial generativa, com a aplicação desta tecnologia por forma a simplificar processos e a melhorar a disponibilização de serviços, tornando-os cada vez mais próximos dos utilizadores, mais customizados e integrados numa lógica omnicanal. Assistiremos, de igual forma, a adaptação e restruturação das organizações, por via da adopção desta tecnologia disruptiva. O sector das comunicações electrónicas, será exemplo e palco desta transformação digital, para a qual será necessário acautelar os riscos subjacentes à sua utilização, bem como potenciar os benefícios daí decorrentes. As vantagens são inequívocas, mas obrigam a acelerar o ritmo do desenvolvimento e a um maior foco no tema segurança. O ano de 2024 será ainda marcado pela aprovação de Legislação Comunitária na área da inteligência artificial, cuja regulamentação terá um impacto sem precedentes na forma como a tecnologia vai ser desenvolvida, adoptada e colocada à disposição do sector público e privado, para benefício de empresas e consumidores.

Vamos continuar a assistir a uma forte expansão do 5G, com velocidades de conexão mais rápidas e fiáveis, contribuindo para que Portugal mantenha um posicionamento de liderança no processo de transição digital. As tendências apontam para uma interação ainda maior entre o mundo digital e o mundo físico, evidenciado pelo crescente número de dispositivos conectados. O sector das comunicações electrónicas deverá continuar a dar resposta ao nível de toda a infra-estrutura 5G, potenciando todos os benefícios da IoT nomeadamente ao nível da sua contribuição para práticas mais sustentáveis como a monitorização de desperdícios de recursos e a eficiência energética.

Em termos do cenário ESG (Ambiente, Social e Governança), é fundamental prosseguir o trabalho conjunto de todos os sectores da sociedade na procura de soluções para um mundo melhor para as novas gerações. Neste ano que agora começa, será necessário continuar a investir significativamente na requalificação profissional, com reforço nas competências digitais, apostar na diversidade e inclusão, permitindo uma vivência de forma igualitária, e acelerar o processo de migração para o uso de fontes limpas de energia. A transição energética é uma preocupação conjunta que não irá ser realizada sem a transição digital. Para a Twin Transition (transição digital e energética) o sector das comunicações electrónicas assume um papel preponderante, constituindo sem dúvida um factor crítico de sucesso, pela aposta permanente no desenvolvimento e disponibilização de tecnologias e soluções inovadoras e disruptivas, que possibilitam tendencialmente um consumo energético mais eficiente.

2. E para a sua empresa em particular, quais os maiores desafios?

Apesar do contexto desafiante no sector das comunicações electrónicas, acresce o desafio inerente ao facto de ser-se líder de mercado, em pretendermos garantir a continuidade em sermos pioneiros e inovadores na resposta que damos em termos da tecnologia disponibilizada e nas respostas que damos às necessidades do mercado e da sociedade, isto é, na qualidade de serviço reconhecida pelos nossos clientes.

Vamos continuar empenhados em inovar e em garantir a qualidade do serviço que prestamos, contando à data com uma infra-estrutura 5G e fibra óptica que cobrem, respectivamente, 95% e 85% da população. A Altice Portugal, concretamente através da Altice Labs, tem contribuído para que Portugal garanta no mapa mundial da inovação o reconhecimento e o posicionamento de liderança na transição digital.

Além da inovação, da tecnologia e das pessoas, a estratégia da Altice Portugal está assente no pilar da sustentabilidade. Nesta área, queremos continuar a ser precursores no desenvolvimento e disponibilização de tecnologias que contribuam de forma significativa para o alcance das metas da redução carbónica e de transição digital.

Neste contexto, e com estes compromissos da Altice Portugal, estamos também expectantes com o trabalho conjunto a ser desenvolvido com a entidade reguladora, tendo em consideração a estratégia de proximidade, isenção e diálogo, já assumida pela nova presidência da ANACOM.

3. Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?

Depois de uma pandemia, para além do factor insegurança causado pelas duas frentes de guerra activas, e todas as consequências daí decorrentes para a economia europeia e mundial, deparamo-nos num cenário inflacionista e aumento das taxas de juro, que, apesar de começar a dar alguns sinais de abrandamento, continua a ter impacto sobre o tecido empresarial e a vida dos cidadãos, pelo que deveremos olhar para 2024 com prudência.

Adicionalmente, em Portugal, começamos o ano com um quadro de incerteza política, com decisões estruturais em aberto, as quais exercem um impacto directo no funcionamento e crescimento da economia.

Portugal precisa de previsibilidade regulatória, estabilidade e segurança de mercado, que garantam a atracção de investimento e contínua inovação e competitividade. São estes os factores críticos que se afiguram como determinantes para o próximo quadro macroeconómico. Por último, e se não mais importante, recordo que a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência, constitui-se como imperativo para a tão esperada e necessária transição que o tecido empresarial português requer, a par da também muito necessária transição do sector público, mais ágil, menos burocrático, catalisador de uma economia e sociedade modernas.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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