Carros autónomos? Em breve. Sem condutor? Um dia

06 SARTRE
A indústria automóvel está em fase de mudança e um futuro em que o conceito de condutor ganha novos contornos parece estar mais próximo que nunca. A maior parte dos fabricantes automóveis têm neste momento equipas de investigação empenhadas em criar automóveis autónomos, ou seja, carros em que os passageiros são conduzidos até ao destino pretendido sem que o condutor tenha de desempenhar algum papel activo na condução, embora possa tomar controlo do veículo. Esta possibilidade de controlo é o que separa o conceito de carro autónomo, de carro sem condutor, e é nessa vertente que se apoia a tecnologia que os fabricantes de automóveis que apostam nesta inovação.
“O principal desafio é desenvolver um sistema que funcione em múltiplos e diferentes cenários de tráfego assim como evite falhas técnicas que possam ocorrer” afirma Aira de Mello, directora de Marketing e Relações Públicas da Volvo Portugal, acrescentando ainda que “fazer este sistema complexo 99% fiável não é suficiente. É necessário chegar aos 100%, antes de misturar automóveis auto conduzidos com os outros utilizadores das estradas”. A Volvo, que com o projecto “Drive Me” pretende colocar 100 SUV XC90 auto-conduzidos nas mãos de clientes suecos, em 2017, faz da segurança o principal mote para este investimento, que irá ajudar a marca a alcançar o seu próximo objectivo: “Que a partir de 2020 ninguém fique gravemente ferido, ou perca a vida a bordo de um Volvo”. A condução autónoma, segundo a directora de Marketing da marca, “permitirá diminuir drasticamente o número de acidentes e transformará o trânsito em algo mais previsível e controlado”.
Mas a quem se destinam estes carros autónomos, equipados com sensores, sistemas de posicionamento com base em cloud e em tecnologias de travagem e direcção inteligentes, com um sistema de backup no caso de falhas mecânicas?  “A todas as pessoas que diariamente perdem horas do seu precioso tempo dentro do automóvel, em filas de trânsito,  e que ,cansadas depois de um dia de trabalho, regressam penosamente a casa, de noite, com chuva, sem vontade de conduzir”, explica Aira de Mello.
A Mercedes-Benz é outro dos fabricantes que neste momento está a trabalhar nesta tecnologia, tendo apresentado na feira de inovações CES, em Las Vegas, um protótipo daquele que acreditam ser o futuro da marca, o Mercedes F015. A grande novidade está no interior deste automóvel, com 200 km de autonomia, onde os bancos da frente se viram para trás formando uma pequena sala de reuniões.
“O ponto inicial para todas as funções de condução autónoma é o nosso cruise control adaptativo Distronic”, explica a Mercedes-Benz. O sistema Intelligent Drive incorpora vários dispositivos de segurança autónomos, como a travagem em caso de perigo de colisão frontal ou o alerta de desvio involuntário da faixa de rodagem. “O próximo passo serão as manobras completas, como a mudança de faixa, que poderão ser feitas através de modo automático, mas sem que nada mude fundamentalmente para o condutor: ele ou ela deverão continuar a ser capazes de conduzir o veículo”.
De olhos postos num futuro próximo, a Mercedes-Benz espera que os primeiros carros autónomos sejam implementados nos próximos anos, em tipo de estradas específicos, como auto-estradas, e sob condições climatéricas propícias. No entanto, a marca alemã adverte que “ainda faltam algumas décadas antes de a condução completamente autónoma em todos os tipos de estrada ser possível”.
Legalmente, a condução autónoma levanta algumas questões, especialmente no que concerne a atribuição de responsabilidade em caso de acidente. Autoridades norte-americanas e alemãs já começaram a debruçar-se sobre um assunto que, segundo a Mercedes-Benz “é mais uma questão de ‘quando’  e não de ‘se’ estas tecnologias farão parte do nosso dia-a-dia”.
No entanto não são apenas os fabricantes de automóveis que apostam nesta tecnologia. A gigante da informática Google avança com uma abordagem mais arrojada, propondo um carro sem volante ou pedais, completamente autónomo. “Estes veículos foram projectados na totalidade para se conduzirem a si próprios – o nosso objectivo é que o condutor pressione num botão e que o carro o leve onde precisar”, explica a empresa, adiantando que “o  software e sensores farão todo o trabalho”. O propósito da Google com este carro tem um carácter social, para além do factor segurança: “O nosso objectivo sempre foi construir um carro completamente autónomo, porque acreditamos que isto pode melhorar significativamente a segurança na estrada e ajudar pessoas cegas, deficientes ou que por qualquer outra razão não podem conduzir.” A Google já criou um pequeno automóvel autónomo, ainda em testes, e utiliza um Lexus nas ruas públicas e numa pista que construiu e onde simula variáveis, como os sinais de trânsito, zonas de construção e ciclistas, entre outros factores.
A corrida aos carros autónomos já envolve a maioria dos fabricantes. A Audi associou-se a várias empresas tecnológica e a Renault já anunciou que está a trabalhar em conjunto com a Apple para criar um carro autónomo, apesar de Carlos Ghosn, CEO da marca francesa, ressalvar que “carros sem condutor são um projecto a médio-longo prazo, ao invés dos carros autónomos, que estarão prontos em menos tempo”.
Para que esta tecnologia – “digna dos filmes da matiné de domingo quando éramos crianças”, como refere Aira de Mello -, vingue, terá de conquistar a confiança dos consumidores  e, por isso, as marcas mostram-se reticentes quanto à introdução peremptória de uma tecnologia 100% autónoma. Por agora, as marcas investem passo a passo na tecnologia a, com vista a um dia, no futuro, em que andar de automóvel já não implique um condutor. Ou, pelo menos, que a sua presença ao volante se resuma a “guiar com os olhos”.




Comentários
Loading...