Singularityu: a comunidade que quer despertar a sua mente

Já se fala na criação de uma nova espécie humana, de seres biónicos, da capacidade de editar genes, de criar órgãos humanos, eliminar doenças ou em automóveis solares e comida do futuro. Tudo exemplos que são uma ínfima parte do admirável mundo novo da tecnologia. E a melhor parte é que não estamos a falar de ficção científica. A Singularity University  (SU), fundada em 2008, pelos inovadores Ray Kurzweil, Peter H. Diamandis e Rob Nail, com financiamento de organizações como a Google, Kauffman Foundation e UNICEF, combina o conhecimento entre as tecnologias emergentes e o universo dos negócios.

Começou por estar sediada na NASA Research Park, em Silicon Valley, nos EUA, mas ganhou espaço próprio na reconhecida Universidade da NASA. Tem nem mais nem menos que 200 mil membros, 40 mil alunos, mais de mil mentores e 58 empresas que levantaram 312 milhões de dólares de investimento. Faz um ano que chegou a Portugal, pela mão de Ricardo Marvão, conjugando as diferentes valências da Beta-i, NOVA SBE e Câmara Municipal de Cascais, e tendo como founding partners a Galp, Ageas e Semapa.

SINGULARITYU PORTUGAL

«Quisemos trazer este conceito para Portugal, por ser um pequeno País com capacidade para organizar eventos à altura daquilo que a Singularity faz», explica João Mil-Homens, director da SingularityU Portugal desde Março – antes estava na Agência Nacional de Inovação. Isto faz de Portugal o quarto country partner da Singularity, depois da SingularityU Nordics, Benelux e Canadá. À qual acresce Itália e Brasil, perfazendo seis regiões.

O propósito vai além do tema da tecnologia: «Organizamos eventos que visam educar, capacitar e inspirar pessoas e organizações a utilizar tecnologias exponenciais para resolver problemas da sociedade e identificar oportunidades de negócio», esclarece o director da SingularityU Portugal. Há as Summit, conferências abertas a qualquer tipo de entidades; cursos de três dias em ambiente de retiro para executivos e cursos customizados para executivos de topo (c-level), direcções de topo e intermédias.

«Temos até ao final do ano 14 cursos desenhados com as três entidades fundadoras. Trazemos speakers da faculty (entre os portugueses estão Vasco Pedro, Manuel Tânger, Zita Martins, Cristina Fonseca e Sílvia Corado), para educar, dar a conhecer tecnologias, mostrar o impacto na sociedade e em diferentes sectores económicos e perceber como, enquanto organizações, nos podemos adaptar a esta transformação que está em curso», explica João Mil-Homens.

No fundo, é perceber como é que estes desenvolvimentos vão ter impacto na Saúde, Energia, Mobilidade e Alimentação e as implicações na forma como nos organizamos enquanto sociedade. «O sector onde imagino que a tecnologia vai ter um impacto tremendo é na Saúde, com grandes evoluções na capacidade de diagnosticar e no tratamento de doenças» desfia João Mil-Homens. Outra das áreas é a Energia e a Mobilidade: «Ao cruzarmos estes avanços tecnológicos vamos criar alterações na forma como estamos organizados em núcleos urbanos, em espaços agrícolas e isto vai implicar alterações ao nível das organizações, porque deixam de precisar de edifícios físicos.» Outra área relevante é aquilo que comemos e como produzimos os alimentos. «Vamos ter de produzir com mais qualidade, alimentos controlados e melhores para a nossa saúde», finaliza.

Por tudo isto, a ética é um dos desafios que preocupa a equipa SingularityU. «Não basta dizer que agora vamos ter IA e robots a construir tudo aquilo que necessitamos e vamos estar mais livres. Faz parte do nosso trabalho levantar essas questões», sublinha.

PULVERIZAR CONHECIMENTO

A tecnologia está a evoluir a um ritmo sem precedentes. A maioria não se apercebe e mesmo os executivos e líderes das organizações não têm noção dos seus impactos. «Daí a nossa preocupação de alertar as empresas, sobretudo as grandes que não têm agilidade para se prepararem para esta transformação», esclarece o director.

O melhor indicador das oportunidades de crescimento que estão a surgir com a tecnologia, segundo diz, é o facto de estarem a surgir negócios que atingem valorizações de mil milhões em menos de um ano, o que há uns anos demorava mais de uma década. «É possível que venhamos a ter mais unicórnios em Portugal. E um dos nossos focos é um dos programas de aceleração de startups.» O grande objectivo é complementar o que é feito nas universidades. «As pessoas saem dos cursos com vontade de mudar o Mundo, completamente overwhelmed. A ousadia dos portugueses que em 1500 avançaram na exploração de um mundo novo é o que temos de fazer novamente. Está um novo mundo a abrir-se com as oportunidades que nos dá a tecnologia», garante João Mil-Homens.

Em Portugal, a SU está focada no futuro do trabalho, chegar aos jovens e mostrar-lhes que a educação que têm e os percursos educativos vão estar em constante mutação. Querem instigar uma mentalidade de mudança. O grande propósito é pulverizar o conhecimento. «Não é a minha intenção explicar à Galp [founding partner], o que é o futuro da energia. O que queremos mostrar é o futuro da Saúde, do Transporte, das cidades, do cérebro humano, porque é no cruzamento destas diferentes áreas que vão encontrar grandes oportunidades. Queremos dar ferramentas para pensarem. Queremos expô-los a especialistas que falam do futuro das cidades, de neurociência e dos grandes desafios da humanidade e é do cruzamento de ideias que temos o momento “haha” e isto acontece», detalha. Qual é o próximo passo? Pode ser a optimização e download das memórias que entram numa máquina e ligam ao cérebro. Ainda não há certezas, mas a Singularity U já está no seu encalço.

Executive Digest nº 164 Novembro 2019

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