Como as fábricas portuguesas se reeinventaram para lutar contra a Covid-19

A Science4you, empresa de brinquedos 100% portuguesa, adaptou a produção no sentido de dar resposta às necessidades do mercado no âmbito da pandemia mundial. A empresa já conseguiu fornecer mais de 300 mil óculos de proteção, estando neste momento a produzir cerca de 15 mil unidades por dia. “Convertemos uma parte significativa dos nossos recursos internos — engenheiros, cientistas, ‘business developers’ — para se dedicarem a dar resposta à escassez de material”, explica Miguel Pina Martins, CEO da Science4You.

“Trata-se de uma transformação em tempo recorde de toda a linha de produção que irá garantir no imediato não só a manutenção de postos de trabalho, como ultrapassar necessidades de importação deste material, parte do qual é oriundo da China”, acrescentou o CEO.

Nos próximos tempos, a equipa vai também terminar a adaptação das instalações para passar a produzir gel desinfetante. “Sentimos a responsabilidade, enquanto marca de ciência e portuguesa, de ajudar dentro daquilo em que nos distinguimos, não só em relação à ciência, mas também à promoção de valores como a solidariedade e responsabilidade social. Desta forma, a Science4you tenta dentro das suas capacidades dar o seu contributo para o combate ao COVID-19, acreditando que se todos contribuirmos, o combate será mais eficaz”, afirma Miguel Pina Martins.

Do setor do calçado também o Grupo Luís Onofre iniciou a produção de máscaras. O famoso designer de calçado começou a produção diária de 500 máscaras não cirúrgicas na sua fábrica em Oliveira de Azeméis, numa parceria técnica com o Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP). Estas máscaras são doadas a instituições do concelho de Oliveira de Azeméis e arredores, tendo sido já sido também assegurada a distribuição no Hospital de Santa Maria da Feira, Hospital de Famalicão, Centro Dial, Lar Geribranca, Lar Pinheiro da Bemposta, Lar Pró Outeiro e Cruz Vermelha. O designer espera aumentar a produção diária para 800 unidades.

Já a produtora de vinhos José Maria da Fonseca, em parceria com a Destilaria Levria, estão a produzir cinco mil litros de álcool gel para doarem a instituições de saúde, de solidariedade social, forças de segurança e socorro locais. O álcool vínico destinado à produção de Moscatel de Setúbal da José Maria da Fonseca vai ser transformado pela destilaria Levira em gel desinfetante para as mãos, cumprindo todas as normas da Organização Mundial de Saúde. As instituições que vão beneficiar desta doação são a Santa Casa da Misericórdia de Azeitão, o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, o Hospital da Nossa Senhora da Arrábida, em Azeitão, a Cruz Vermelha Portuguesa, vários lares, GNR e as corporações de bombeiros da região.

Viseiras e ventilador

A DGA, uma empresa do Porto que fabrica peças para automóveis, também se reinventou e está agora a produzir viseiras para profissionais de saúde. Numa semana, saíram da empresa quatro mil viseiras para os hospitais de Santo António e de São João, no Porto. Além das empresas que produzem, também muitos dos fornecedores de matérias primas venderam os materiais a preços mais acessíveis ou até a preço de custo. Viseiras é também o que produz o VivaLab, no Porto, que pretende fornecer unidades hospitalares de todo o país.

Os números da Organização Mundial de Saúde indicam que 14% dos infetados com covid-19 têm pneumonia e 5% dos doentes evoluem para um estado muito crítico dos pulmões são vidas a salvar. Esse é um dos dados que esteve na base do trabalho conjunto entre engenheiros do CEiiA, intensivistas, pneumologistas, anestesistas e internistas de hospitais públicos e privados do Norte e Sul do país e a Escola de Medicina da Universidade do Minho para conceber e desenvolver o novo ventilador que chegou à fase de protótipo funcional.

No Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel (CEiiA), em Matosinhos, Uma equipa de 70 pessoas tenta criar um protótipo de ventilador que possa ser produzido em Portugal e colocado nos hospitais portugueses. Tiago Rebelo, diretor de engenharia do CEiiA, explicou já que este é um modelo de baixo custo, montagem simples e produção local, com materiais e componentes disponíveis em Portugal, compatível com a infraestrutura hospitalar e de utilização fácil e intuitiva. “Não estamos a fazer o melhor ventilador do mundo, estamos a fazer o melhor possível para responder a um problema de uma forma rápida e eficaz”, referiu Tiago Rebelo. O objetivo é descentralizar a produção para a indústria nacional, de forma a que nos próximos seis meses possam ser fabricados 10 mil ventiladores.

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