Transferir e poupar estão cada vez mais no mesmo dicionário

por João Melo, director de crédito habitação do ComparaJá

É natural que nos foquemos nas definições e nos termos financeiros ao longo deste texto, porém, é importante começarmos esta análise com um momento reflexivo: porque será que nunca associamos uma transferência ao produto do crédito habitação em si? Será porque as pessoas desconhecem a ideia de que é possível mudar de banco durante o período do crédito? E este conceito é desconhecido porquê? Será que as entidades bancárias divulgaram e comunicaram o produto da transferência de crédito ao longo dos tempos?

Porquê transferir?
É difícil chegar a conclusões reais e práticas que respondam às perguntas que fizemos acima. No entanto, não é assim tão difícil descrever e realçar a importância que a transferência de um crédito habitação pode (e costuma!) assumir na vida e na carteira das pessoas.
É possível (e provável) que já tenha percebido ao ler estes parágrafos iniciais, mas nunca será de mais realçar: se sente que está a pagar demasiado, saiba que pode transferir o seu crédito para outro banco de forma a conseguir novas e melhores condições bancárias – a única entidade bancária que gosta mais de si do que o seu próprio banco é aquela que pode ganhar um novo cliente. E é exactamente por isso que é muito provável que consiga condições mais vantajosas noutros bancos comparativamente com as condições que o seu banco irá disponibilizar.

Porquê transferir agora?
Esta é a razão principal pela qual deve sempre ponderar uma transferência de crédito. Porém, tão ou mais importante do que perceber o que é uma transferência de crédito é entender o timing perfeito para o fazer.
Este é um exercício que pode parecer complexo, mas a verdade é que é fácil perceber o porquê de esta ser uma boa altura para equacionar uma transferência de crédito. Há cerca de um ano e meio que a banca começou a sentir oscilações bem assertivas naquilo que são as taxas de juros e as taxas de Euribor e, nessa óptica, todas as pessoas que contrataram uma taxa variável (já lá iremos mais à frente) sofreram aumentos significativos nas respectivas prestações mensais.
É conhecida a frase “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e nunca uma frase fez tanto sentido num contexto associado à banca. Ao termos em conta que assistimos, há muito pouco, ao maior aumento da história das taxas de juro, facilmente percebemos que o panorama mudou drasticamente e os valores que faziam sentido há uns meses são em tudo díspares daqueles que fazem sentido hoje. 

Para onde transferir?
Pode não parecer – na maior parte das vezes o contexto de formalidade associado aos bancos não contribui para isso –, mas o mercado apresenta índices de volatilidade e de dinâmica elevados. Se, por um lado, não existem propriamente promoções ou descontos, por outro, os bancos apresentam constantemente campanhas favoráveis à contratação de determinados produtos, nomeadamente, a transferência. Olhando para o contexto actual, há exemplos bons que podem ser tidos em conta para perceber algumas ofertas específicas que podem fazer (e normalmente fazem) todo o sentido. É importante realçar que estas ofertas podem não ir ao encontro de todos os clientes e que há certos requisitos que têm de ser cumpridos, requisitos esses que variam de banco para banco.
O Millennium bcp, por exemplo, está a disponibilizar propostas com um spread de 0% associado até ao final de 2024 – certo é que a este tipo de propostas está associada, naturalmente, uma poupança significativa. O Banco CTT, por sua vez, oferece o primeiro ano de seguro de vida a quem contratar um crédito habitação com uma taxa mista – desde que os dois primeiros anos sejam em taxa fixa – e disponibiliza uma TAN de 3,15%. Já o Santander assume uma posição de intermédio e garante um spread de 0,5% nos dois primeiros anos, sendo que o restante período será alvo de avaliação e não será nunca inferior a 0,7%.
Todavia, estas análises nunca serão um exercício fácil ou acessível e, por isso, o melhor conselho a seguir será mesmo detalhar de forma prática e imparcial as propostas disponibilizadas pelo mercado. Nesse sentido, um intermediário de crédito será uma ferramenta essencial para obter a melhor oferta o mais depressa possível – para além do processo de acompanhamento que terá em todas as fases do processo, as propostas serão apresentadas e negociadas com condições especiais e extremamente benéficas para o consumidor final.
Por sua vez, no que diz respeito à taxa a escolher, não existe propriamente uma resposta certa e universal. Ainda assim, a taxa mista pode ser encarada como uma solução viável, dado que poderá ser possível usufruir do “melhor dos dois mundos” – da mesma forma que irá ter algum conforto, neste momento de instabilidade financeira em que nos encontramos, poderá usufruir do “atenuar” dos juros num futuro próximo. Caso os juros não assumam uma tendência favorável para o seu caso particular, poderá transferir o seu crédito.

A tendência
Quer queiramos, quer não, na maior parte dos casos a tendência do mercado e a respectiva análise são acções essenciais para percebermos a melhor decisão a tomar. O mercado financeiro não é excepção e, por isso, é importante perceber aquilo que a actualidade nos vai dizendo para tirarmos as melhores ilações possíveis.
Desde Janeiro de 2022, e segundo os dados do ComparaJá, o interesse pelo produto da transferência de crédito habitação aumentou quase 30% e, sabendo que esta foi sempre uma opção muito pouco analisada pela população no geral, é possível inferir que este aumento é bem representativo do comportamento do mercado em si. Os números não mentem e não é por acaso que os bancos têm investido cada vez mais esforços na comunicação e nas propostas disponíveis para realizar transferências.
Ainda sobre as tendências em si, é possível perceber que a banca mudou de postura no que diz respeito ao tipo de taxas que o mercado disponibiliza. Se, por um lado, 90% dos créditos habitação em Portugal ainda são contratados com uma taxa variável, por outro, o aumento exponencial das taxas de juro no último ano e meio alertou não só as pessoas mas também os bancos para a importância de garantir alguma segurança e estabilidade financeira, garantidas pela aquisição de uma taxa fixa – não é à toa que a maior parte das campanhas que estão disponíveis actualmente cobre um período de taxa fixa. 

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