Editorial – 2021: Um ano de alto risco

Por Paulo Mendonça
Coordenador Editorial da Risco

Numa altura de alguma imprevisibilidade face à evolução da pandemia torna-se difícil antecipar tendências para a economia global, embora os especialistas se digam surpreendidos com a resiliência demonstrada perante um cenário tão adverso e longo.

Segundo o 2021 Global Economic Outlook do Morgan Stanley, projecta-se um crescimento global na ordem dos 6,4% – primeiramente alavancado pelos mercados emergentes e depois pela reabertura dos mercados europeu e americano. Após um acentuado declínio no fim do primeiro trimestre de 2020, a economia global iniciou uma recuperação em Maio, que se mantém na rota face ao objectivo de atingir ou superar os níveis pré-pandémicos no final deste ano – abrindo espaço a um forte crescimento pós-recuperação em 2021.

Os economistas do Morgan Stanley acreditam que a recuperação em “V” prevista a meio do ano pela mesma equipa está agora a entrar uma nova fase de auto-sustentabilidade, o que permite projectar o tal crescimento de 6,4% para 2021. Estas projecções são mais optimistas do que aquela que é a posição mais consensual: um crescimento global na ordem dos 5,4% e um grande impacto na apetência do sector privado ao risco. No entanto, o banco de investimento mantém que foi o consumo a conduzir a recuperação e que o investimento seguirá o mesmo caminho.

Três factores-chave deverão caracterizar a próxima fase de recuperação, segundo o Morgan Stanley: crescimento global sincronizado, ressurgimento dos mercados emergentes e o regresso da inflação. Perante este outlook macroeconómico, o banco de investimento, mais do que fazer previsões, incentiva os investidores a confiarem na recuperação económica.

No que diz respeito ao crescimento global sincronizado, este é um evento raro, que só aconteceu 12 vezes nos últimos 40 anos (a última vez foi em 2017) e que consiste num cenário em que mercados emergentes e desenvolvidos aceleram no mesmo ano. Para o Morgan Stanley, teremos esta situação no segundo trimestre de 2021 . Quanto aos mercados emergentes, deverão ser os primeiros a recuperar. O referido relatório fala dos casos da Coreia do Sul e de Taiwan, onde já se sente a recuperação e refere ainda a Índia e o Brasil, onde alguns indicadores «excederam os níveis pré-Covid-19 e registam um crescimento homólogo positivo». Já a China é um caso de recuperação rápida, para a qual o Morgan Stanley prevê um crescimento de 9% em 2021, moderado no ano seguinte para 5,4% em 2022.

Por fim, a inflação. Se todas as recessões deixam a sua marca, para o Morgan Stanley o pós-pandemia trará consigo o regresso da inflação. O banco de investimento recorda que esta crise fez disparar o desemprego para níveis não vistos há gerações, e espera-se dos governos medidas para criar emprego o mais depressa possível. Estas políticas de estímulos poderão exercer ondas de pressão que farão crescer a inflação.

Apesar de todas as previsões, umas mais optimistas do que outras, 2021 é um ano de alto risco, em que praticamente tudo pode acontecer. Qualquer desvio no previsto declínio da pandemia poderá ter efeitos graves na economia; mas a recuperação é, de facto, possível, se a Covid-19 for finalmente contida e se mantiver em níveis geríveis.

Editorial publicado na revista Risco n.º 19 – Inverno de 2020

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