Randstad Insight: Vamos construir o futuro, juntos

Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

2000. A mudança de século, a incerteza e o alegado fim do Mundo, que não aconteceu. O código binário sobreviveu e a tecnologia acelerou parecendo ultrapassar a velocidade da luz.

Cinco segundos não chegam para vermos como os telemóveis passaram a ser parte da nossa identidade, como as redes sociais fundiram o digital com o real e tudo mudou. Mudou a televisão, mudaram as fotografias, os táxis, os restaurantes, as referências e as classificações, os likes e os seguidores. O pouco conhecido símbolo # passou a ser companhia de todas as palavras. As perguntas ganharam respostas, tudo é pesquisável, mas nem tudo é verdade. Os bancos transformaram-se em apps, os impostos perderam as filas e o número de contribuinte é decorado e enumerado como se de um nome se tratasse.

Surgem novas profissões ligadas à ciência dos dados, aos novos canais e às novas tendências. Desconhecidos passam a influenciadores enriquecendo de forma rápida, fruto não de uma cautela mas do fenómeno viral. Os mais velhos lamentam-se dizendo que a nova geração está perdida enquanto os mais novos vivem esta velocidade, usando equipamentos em simultâneo e fazendo swipe ao que menos lhes agrada.

Em 20 anos, muita coisa aconteceu, começámos a mudança para assumirmos a transformação num mundo que passou a ser digital e que hoje vive uma era pós-digital.

E o que é que podemos imaginar para esta nova década? Será que teremos uma nova versão dos loucos anos 20 em que a euforia se revelou através de formas como a música e a arte, do comportamento social e da confiança de um pós-guerra? Ou a história não se vai repetir, e a tecnologia vai, sim, substituir a humanidade criando cenários dantescos e aproximando-se da auto-destruição?

A imaginação pode-nos levar para diferentes caminhos, mas neste argumento o papel principal é mesmo nosso. Somos os decisores das várias opções. Somos os responsáveis por tudo o que vai acontecer e, assim como um escritor, damos rumo ao enredo, permitindo que o acaso nos mude episódios mas não admitindo que sejamos apenas personagens sem nome nesta década.

Podemos marcar o Mundo, garantir a sua sustentabilidade e humanizar os próximos 20 anos. Temos essa responsabilidade e esse privilégio de equilibrar a tecnologia e o humano, encontrando o lugar de ambos. Temos, enquanto indivíduos, instituições e empresas, que assumir a palavra ética definindo limites e não deixando que a euforia nos sufoque e nos mate, acabando com a privacidade e não permitindo distinguir o que é real do que é fake.

Vamos ser mais felizes. Usar as nossas criações para o trabalho repetitivo ao mesmo tempo que as pessoas acrescentam valor e revelam o seu potencial. Pessoas que vivem mais a vida nas suas várias dimensões: profissional, pessoal e familiar. E a velocidade não vai abrandar, mas no centro de tudo vão estar as pessoas, a humanidade, os valores e a felicidade. A inclusão e a diversidade, não por decreto mas nas acções. A tolerância num mundo que vai ter mais tempo e que tem tudo para ser ainda melhor. E este não é um cenário utópico, é um cenário que depende de cada um de nós, do que nós fizermos, começando já hoje e não numa lista de intenções. O futuro é assim, construído sobre as bases que fomos criando, aceitando o que aprendemos e reconhecendo o valor das pessoas. O futuro tem de ser assim, construído e temos de o fazer juntos.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 166 de Janeiro de 2020

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