Randstad Insight: (Re)começar a ser feliz
Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal
São as velocidades do Verão.
A ansiedade de uma agenda que se enche de programas mas que perde a rotina. São os festivais de Verão, os jantares na rua, os encontros com amigos sem hora para acabar. A viagem que foi marcada no início do ano, as idas à praia, o regresso à “terra” ou simplesmente fechar os olhos e aceitar aquela sesta depois de almoço. E enquanto uns relaxam outros vivem do Verão. O Verão que é um mês e meio, que troca a areia pelas pessoas, onde os restaurantes ganham filas à porta, o chinelar substitui o ritmo das botas e do salto alto, as festas ao som dos carrinhos de choque acompanhados com farturas ou nas longas filas de entrada nas discotecas mais badaladas do Verão.
Tudo pára ou acelera brutalmente. Vilas transformam-se em cidades e as ruas enchem-se de vida, misturando idiomas e experiências. E é preciso viver intensamente, aproveitar. Ler, estar com os amigos, descansar ou ver aquelas séries que ficaram por ver. Viajar, dar descanso ao telemóvel resistindo consultar o email, conversar, correr ou simplesmente caminhar.
E quando os dias começam a ficar mais curtos, quando o pôr-do-sol já não janta connosco percebemos que vai tudo recomeçar, ou que vai finalmente parar. Em segundos pensamos se fizemos tudo o que queríamos, sentimos uma angústia de chegar ao fim e dizemos sempre que foi curto demais… mas é bom ter para onde voltar.
Um regresso que é sentido por todos.
Os miúdos resistem aos primeiros toques do despertador, mas tinham saudades dos colegas e há uma excitação em partilhar o que não foi partilhado nas redes sociais, de estar pessoalmente e não apenas online. Regressam as aulas e o conhecimento. Começa um ano lectivo, um novo capítulo.
E no mundo dos crescidos a pausa foi mais curta. Mas foi vivida tão intensamente como quando éramos crianças, como quando começávamos as férias. A ansiedade de que estava quase, a ansiedade de aproveitar, de fazer tudo, de descansar. Mas é bom voltar.
É bom ter para onde voltar, ter um lugar. Regressar à empresa com energia para enfrentar uma segunda metade que é sempre mais curta do que a primeira. Voltar sem depressão, voltar porque gostamos do que fazemos, gostamos de fazer parte. Voltar porque podemos sempre fazer melhor, porque podemos aprender mais, porque a rotina é decidida por nós e não imposta.
E na nossa vida temos de aceitar que somos culpados. Culpados pela felicidade que queremos viver, pela forma como respondemos à adversidade e pelo dia-a-dia. Voltar para a rotina é continuarmos o nosso caminho. Um caminho que é decidido por nós, que não é fácil mas que tem sempre de fazer sentido e que tem de nos fazer felizes.
E assim despedimo-nos do Verão. Com o cansaço de quem o tornou marcante. Com as fotos dos sorrisos espontâneos sem filtros. Prontos para recomeçar ou começar novas aventuras nas mesmas rotinas, ou em algo diferente. Conscientes do que queremos e da responsabilidade que temos para atingir os nossos objectivos. Decididos a ser felizes. E não pode ser uma opção ou uma esperança. Tem de ser uma decisão, uma decisão que nos vai guiar nas escolhas que fazemos e na forma como regressamos.
E a caminho do Outono, vamos ver a poesia nos dias mais curtos, no conforto das folhas que começam a cair e no alaranjado que nos prepara para a despedida do calor e o abraçar do inverno…
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 162 de Setembro de 2019