Randstad Insight: As mulheres e a Automatização
Enfrentar hoje os desafios de diversidade do futuro.
Uma força de trabalho diversificada estimula a inovação através de diferentes perspectivas, pensamentos e ideias. As organizações tentam criar um equilíbrio entre as antiquadas “check boxes” de cumprimento e os esforços mais estratégicos e intencionais de inclusão. E numa era de rápidos avanços tecnológicos, a robótica e a automatização acrescentam mais um nível de complexidade à diversidade.
A automatização tem-se introduzido lentamente na sociedade nas últimas décadas. A caixa ATM, sem dúvida uma das primeiras grandes tecnologias para self-service do consumidor, foi lançada em 1967 e adoptada nos EUA na década de 70. Muitos cépticos da altura temeram que isso marcasse o fim do bancário humano. Mas em vez de desaparecer, o cargo de bancário desenvolveu-se e transformou-se em consultor bancário. Esta adaptação foi essencial para o crescimento e o desenvolvimento da força de trabalho no sector bancário.
A MUDANÇA ESTÁ A CHEGAR
Tal como a máquina ATM foi uma tecnologia disruptiva na sua altura, a robótica, a inteligência artificial (IA) e os veículos autónomos estão entre os principais agentes de disrupção de hoje. Sentimo-nos naturalmente atraídos pelas últimas tecnologias no mercado e, como se vê pelos sectores milionários dos telemóveis, tablets e computadores, as pessoas desejam o que é inovador. Parte desta fome insaciável nasce da programação a que todos estão expostos diariamente, incluindo publicidade pop-up em telemóveis, placares electrónicos e vídeos. Mas embora muitas pessoas estejam concentradas no último aparelho, muitas vezes descuramos a quantidade de empregos perdidos ou muito alterados graças à automatização – e um estudo recente do Fórum Económico Mundial afirma que quase 57% desses empregos serão empregos que actualmente pertencem a mulheres. O relatório indica que os cargos administrativos/de escritório, serviço ao cliente, contabilidade e solicitadoria estão em risco.
Além disso, um relatório da McKinsey Global Institute mostra que até 375 milhões de colaboradores terão de encontrar carreiras alternativas até 2030. Determinar quais os cargos que as mulheres serão capazes de transferir no deslocamento que se segue pode ser o maior desafio para a diversidade, tanto para colaboradores como para empregadores. Sem uma estratégia formidável, as organizações perderão uma parte substancial da sua força de trabalho.
EXIGINDO NOVAS COMPETÊNCIAS
A automatização irá alterar as competências de que os colaboradores precisam para o sucesso. Tudo o que possa ser automatizado provavelmente sê-lo-á, tornando mais desejáveis competências ”humanas” como a interacção pessoal e a gestão.
Os líderes de negócios precisam apenas de olhar para as gigantes do retalho que já implementaram a automatização para ver os seus efeitos em acção. Com a ascensão dos terminais de self-checkout em muitas grandes retalhistas, estas lojas podem reduzir o número de colaboradores ou aproveitá-los para outras funções. Algumas retalhistas estão inclusive a começar a explorar lojas sem humanos. A Amazon, por exemplo, estabeleceu recentemente lojas de conveniência beta Amazon Go, nas quais os clientes têm acesso à loja através da aplicação da Amazon e é-lhes facturada a conta momentos depois de retirarem itens das prateleiras e de as colocarem nos cestos. À medida que cada vez mais retalhistas e restaurantes optam por interfaces digitais em detrimento de interacções humanas, as mulheres serão as mais prejudicadas. Segundo a Agência de Censos dos EUA, 73,7% dos empregados de caixa são mulheres.
PREPARAR PARA A DESLOCAÇÃO
Agora – e não daqui a cinco ou 10 anos – está na altura de preparar para uma força de trabalho do futuro que receberá o impacto da automatização. A robótica e a automatização já chegaram, e o futuro da nossa força de trabalho está por um fio delicado. Eis recomendações para mitigar o impacto:
Levantamento de empregos
As organizações devem comparar conjuntos de competências para as posições que devem ser deslocadas e os cargos que necessitarão no futuro. Por exemplo, o pessoal da contabilidade, da facturação e dos pagamentos pode muitas vezes ter tarefas repetitivas que podem ser e serão automatizadas. Ao fazer-se o levantamento dessas competências, os líderes de negócios identificam outras posições na organização que os colaboradores deslocados podem preencher com formação adicional.
Requalificação
Alguns conjuntos de competências irão simplesmente tornar-se completamente obsoletos. Como tal, a requalificação é fundamental. Avaliar as capacidades e os interesses dos colaboradores para ver quais os programas de formação que seriam benéficos para o futuro. Oferecer reembolsos de matrículas em troca de um compromisso para permanecer dois anos na empresa após o final do curso.
Recolocação
Tal como o sector bancário actualizou os bancários para se tornarem consultores financeiros, outros sectores terão de redistribuir recursos através de formação e rotatividade.
Retornos
Os programas de retorno permitem às mulheres com formação e experiência profissional em áreas mais exigentes como as STEM e que estão actualmente fora da força de trabalho que voltem para o emprego a tempo inteiro. Através de formação interna e parcerias com universidades, as organizações podem atrair mulheres para empregos a tempo parcial ou por projecto enquanto retomam as certificações de que precisam para passarem para posições mais permanentes.
Encontrar equilíbrio
É fundamental encontrar um equilíbrio entre a tecnologia e a humanidade no diálogo sobre a diversidade. Apesar do nosso apetite por tecnologia, conveniência e experiências personalizadas, ligar-nos aos outros continua a ser uma parte vital da experiência humana. Afinal de contas, a empatia e a emoção fazem parte daquilo que separa os humanos dos robôs.
É também importante ter em conta o canal de diversidade ao requalificar a força de trabalho. Ainda que não haja indicação de quando ou se a nossa sociedade irá atingir a igualdade de género, é fundamental assegurar que as mulheres e as minorias estão incluídas nos esforços de requalificação.
Os ambientes de trabalho inclusivos asseguram que todos os colaboradores têm a oportunidade de atingirem o sucesso e contribuírem para o crescimento e estabilidade da economia global.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 150 de Setembro de 2018.