Uma visão partilhada: democratizar a inteligência artificial

Por Filipe Marques, responsável pela equipa de Data Management, Analytics and Artificial Intelligence na Siemens Portugal

Nos últimos anos, fomos testemunhando avanços extraordinários no campo da Inteligência Artificial (IA), uma revolução tecnológica que transcende fronteiras e que redefinirá a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos com o mundo ao nosso redor.

Ao observar o panorama português, surge uma perspetiva fascinante: Portugal, um país de talentos e inovação, posiciona-se como um ativo estratégico para muitas empresas da área das tecnologias de informação. A qualidade do ensino e dos profissionais, as suas competências, habilidade e dedicação são verdadeiras mais-valias, contribuindo para o sucesso dos projetos nos quais nos envolvemos.

A inteligência artificial tem de ser vista como uma das tecnologias-chave para o futuro das empresas, nomeadamente as que atuam nos setores que formam a espinha dorsal das nossas economias, como a indústria, as infraestruturas, a mobilidade ou a saúde. A Inteligência Artificial Industrial, ao descodificar dados de máquinas e ao dar sentido a padrões intrincados e complexos, pode ajudar a gerir e a otimizar os sistemas críticos destas indústrias, que, pura e simplesmente, não se podem dar ao luxo de falhar.

Deixem-me exemplificar: no setor das infraestruturas, a IA pode ajudar a integrar cada vez mais energias renováveis na rede, sem comprometer a estabilidade do fornecimento de eletricidade. Na indústria, permite aumentar a produtividade, otimizar a forma como trabalhamos com as máquinas, aumentando o seu ciclo de vida, fazer manutenção preditiva, e reduzir os tempos de desenvolvimento de novos produtos e soluções, consumindo menos recursos e evitando emissões de CO2. Já no setor da saúde, a IA pode apoiar os radiologistas na interpretação de imagens ao detetar rapidamente anomalias.

Dito isto, dada a importância crítica destes setores, é fundamental que a IA Industrial seja confiável, robusta e segura, cumprindo os requisitos e padrões mais exigentes destes ambientes profissionais específicos.

Enquanto celebramos os avanços na IA, é imperativo também ponderar sobre os desafios éticos e sociais que este progresso acarreta. A transparência, a equidade e a responsabilidade devem ser valores fundamentais na implementação da IA, garantindo que o impacto desta é positivo e inclusivo.

 

Uma oportunidade que gera receios

Todas a revoluções industriais ou tecnológicas têm consequências no mercado de trabalho e determinados perfis profissionais podem tornar-se, de certo modo, obsoletos, caso não exista uma preocupação real em requalificar (upskilling e reskilling) e reorientar as pessoas, adaptando-as a novas realidades e assegurando que se mantêm relevantes.

Um dos grandes receios que existe por parte de muitos profissionais que desempenham trabalhos rotineiros é que estes possam vir a ser automatizados e substituídos por soluções de IA. Este caso poderá colocar-se em certas situações, mas todas as novas oportunidades que se geram irão ser muito mais benéficas para todos nós enquanto sociedade.

Colocando as pessoas no centro, permitindo que se desenvolvam e sejam cada vez mais valorizadas, a solução passa pela requalificação direcionada para que, no futuro, os profissionais consigam gerar mais impacto em tarefas de maior valor acrescentado. Aliás, face aos inegáveis desafios demográficas, ao envelhecimento da população e à escassez de talentos no mercado, a IA permitirá às diferentes indústrias continuar a crescer e manter (ou melhorar) a produtividade, reduzindo ciclos de desenvolvimento, melhoria na eficiência de recursos, menor impacto ambiental, garantindo a qualidade das atividades que desenvolvem.

Em vez de ser uma ameaça, a inteligência artificial pode ser um aliado ao desempenhar um importante papel de suporte na medida em que disponibiliza e analisa ainda mais informação, permitindo às pessoas tomar melhores decisões, mais rapidamente; e pode ser um importante auxílio para os profissionais, especialmente em situações relacionadas com controlo, inspeção, formação ou resolução de problemas.

Considero que a estratégia das empresas para a IA tem de ir além do comercial, passando por uma colaboração sincera com a comunidade e o ecossistema tecnológico, como nos esforçamos por fazer na Siemens. Reconhecemos não apenas o talento individual, mas também o potencial coletivo que Portugal oferece. Este compromisso é refletido na criação de oportunidades de desenvolvimento, no estabelecimento de parcerias com instituições de ensino e outros organismos, que visam nutrir o ecossistema de inovação do país. O objetivo último é difundir esta visão partilhada, que ambiciona democratizar a IA e torná-la mais acessível e fácil de usar – para empresas de todos os tamanhos e de todas as indústrias.

Vivemos tempos emocionantes, em que a tecnologia se encontra com a excelência humana, e Portugal, com todos os seus talentos, está entre o leque de países na vanguarda desse movimento, restando agora saber capitalizar o mesmo e ajudar a transformar o dia a dia de todos, onde quer que se encontrem no mundo.

 

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