Trustability, Accountability and RespectAbility

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

O que nos motiva são os 3 grandes “palavrões” acima referidos que consubstanciam 4 comportamentos. Ser confiável, ser “accountable”, ser respeitável e respeitar os outros (“respect ability”). Julgo que a pandemia, a guerra e a crise económica nos colocaram novamente noutro caminho social. Vivíamos na pós-modernidade, caracterizada pela ruptura com os ideais iluministas vigentes durante a era moderna, como os objectivos (ou quase sonhos de utopia) de construir uma sociedade perfeita com base em princípios tidos como verdadeiros e únicos. Tinha acabado a guerra fria,a globalização emergiu, o colectivo deu lugar ao individualismo bem representado pelo consumismo, a realidade passou a ser virtual e imaginária, tudo passou a ser subjectivo e abstrato (em que não havia certezas mas hipóteses). A cultura e a sociedade passaram a ser fragmentadas e multiculturais tendencialistas, os centros deslocaram-se e fragmentaram-se entre vários estilos / ideologias / comportamentos / culturas. Os valores deixaram de o ser para ser o “politicamente correcto”. É o epicentro do “capitalismo tardio” segundo Jameson ou da “modernidade líquida” de Bauman. E vemos isso na arquitectura e mais tarde nas artes e literatura.
No mundo laboral experienciavam-se modelos de atração e retenção de talentos, modelos hierárquicos fluidos mas bem definidos no modelo corporativo instituído, a satisfação dos colaboradores era medida por KPIs, o trabalho em equipa era uma das “buzzwords” mais usadas, o foco nos resultados era a lei sacrossanta… agora, depois de toda esta disrupção, não sabemos! As regras e os valores mudaram. Falamos de felicidade no local de trabalho, modelos híbridos e remotos em que se privilegia a auto-motivação e auto-controle, controlamos nas organizações a real existência de pluralidade e respeito pelas diferenças de forma quase policial (impomos quotas de género por exemplo). Os colaboradores optam por períodos sabáticos fora do lugar de trabalho (apesar da incerteza futura) para poderem desfrutar da vida e viver novas experiências, o mundo artificial (nem sempre inteligente) tende a substituir-nos mesmo nas tarefas de maior valor acrescentado. A liberdade de expressão aumentou pois abandonámos os inquéritos 360 graus para começar a ouvir os colaboradores “one to one”, criaram-se novos tipos de trabalho como os YouTubers / bloggers / Uber drivers/ etc. deixamos de “reter” talento para “manter” talento e inclusive começamos a criticar os lucros “excessivos” das empresas (algo impensável numa sociedade capitalista)… vivemos numa “sociedade de clique”, similar ao prémio Nobel da química entregue a 2 cientistas, sharpless e Medal, este ano. A química de “clique” é um processo de encaixe entre dois blocos para que se forme uma molécula mais complexa, útil para o desenvolvimento de medicamentos, polímeros, novos materiais, entre outras coisas. Ou seja o mundo (e especificamente o mundo laboral) está a experienciar novos valores, novas culturas, novos comportamentos que quando ligados, permitirão construir um novo modelo laboral que permita atingir a felicidade nas organizações (dos shareholders pela obtenção dos resultados pretendidos ; a felicidade desejada pelos colaboradores; a felicidade desejada pela comunidade e sociedade no respeito dos seus valores estruturantes). Os elementos que permitirão construir esta estrutura são (sem margem de dúvida) a “trustability”, a “accountability” e a “RespectAbility”, que servirão de “cola” para que tudo “encaixe” na perfeição. Talvez se trate do eclodir da nova função, tão falada, do “hapiness manager” das organizações, mas apenas os cliques e a “cola” o dirão!