To pellet or not to pellet… again

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Venho agora revisitar a questão dos péletes passado pouco mais de um ano sobre considerações tecidas na Executive Digest (ver https://executivedigest.sapo.pt/opiniao/to-pellet-or-not-to-pellet/ em 27 de dezembro de 2022 e https://executivedigest.sapo.pt/opiniao/a-inedita-situacao-do-mercado-europeu-de-peletes/ em 4 de janeiro de 2023).

Algumas unidades industriais da produção de péletes têm centrado a sua produção no mercado de exportação de péletes industriais. Segundo a Zero, a central elétrica da Drax continua a ser o maior consumidor individual de péletes portugueses sendo o Reino Unido o maior mercado de exportação, seguindo-se a Dinamarca. Em 2022, cerca de 43% da produção nacional, cerca de 300 mil toneladas, foi para centrais elétricas no Norte da Europa.

O crescimento do setor dos péletes, após vários anos de estagnação ou mesmo diminuição, registou uma evolução em 2017, essencialmente devido à conversão de várias centrais elétricas europeias para utilização de péletes em substituição de combustíveis fósseis.

Também no ano de 2022, a produção portuguesa de péletes em comparação com o ano anterior, caiu ligeiramente para cerca de 750 mil toneladas, uma redução de cerca de 12%, refletindo uma tendência observada em toda a UE. Esta diminuição deve-se a vários fatores como os fortes aumentos de preços (exportação de péletes industriais de Portugal com um recorde de 352 euros(!) por tonelada), associados à guerra na Ucrânia (proibição pela UE da importação de péletes russos e bielorrussos e aumentos dos preços da eletricidade e do gás), que levou uma alteração da procura nos setores industrial e do aquecimento doméstico, e ainda a concorrência por matérias-primas escassas como a rolaria de pinho. A produção de péletes em Portugal em 2022, exigiu cerca de 1,4 milhões de toneladas de madeira sendo o segundo maior consumidor de pinho em Portugal (20% do consumo total), segundo o Centro PINUS.

Embora a exportação de péletes industriais tenha diminuído ligeiramente em 2022, como referido, a exportação de péletes certificados para o setor do aquecimento doméstico aumentou cerca de 50%, devido sobretudo ao aumento da procura por parte do mercado francês, italiano e belga. Houve, no entanto, o encerramento de algumas fábricas devido à forte concorrência pelas matérias-primas e aos aumentos significativos do preço das mesmas.

Cerca de 50% da madeira que abastece as serrações origina subprodutos como estilha, costaneira ou serrim, subprodutos esses que são utilizados na produção de aglomerados de madeira e de alguns tipos de papel. A produção de péletes compete assim por estes subprodutos, embora neste caso também seja consumida biomassa florestal residual.

Salientem-se as recentes alterações aos regulamentos da UE que proíbem a queima de biomassa florestal primária, ou seja, troncos retirados diretamente da floresta para queima, como forma de cumprir os objetivos de energia renovável. No caso de haver dependência da biomassa florestal primária, a produção de péletes em Portugal pode contribuir negativamente e não positivamente para as metas de neutralidade carbónica.

Assim, numa perspetiva positiva e não redutora ou negativa para o setor, como alguns apregoam, e para que a escassez de matérias-primas não atinja um ponto de rutura para a indústria de péletes deverão ser tomadas algumas medidas como as que a seguir refiro.

O financiamento público para estas indústrias deve estar dependente da avaliação da disponibilidade de matéria-prima, quer no que se refere ao licenciamento de novas fábricas quer ao aumento da capacidade de produção das existentes.

Devem ser feitos estudos para diversificar a matéria-prima utilizada, aumentando também a sua disponibilidade, por exemplo recorrendo a matéria lenhosa de outras origens, como a de lenhosas infestantes (ex. acácia), como o que está a ser realizado no Centro da Biomassa para a Energia. Neste caso não se deve incluir o eucalipto, porque o aumento da sua utilização, poderá também fomentar a expansão das novas plantações em Portugal, dado que já são importadas quantidades significativas desta matéria-prima.

A ideia, será, assim, aos poucos, libertar esta indústria, que está muito baseada no pinho, das restrições sentidas, sem prejuízo económico e contribuindo de uma forma sustentável para a independência energética e a manutenção desta componente do mix energético.

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