Sustentabilidade estratégica: Impulsionar o crescimento rentável dos negócios através da ação climática

Por Gwenaelle Avice Huet, Vice-Presidente Executiva de Operações na Europa da Schneider Electric

As incertezas económicas, as oscilações dos preços da energia e as tensões geopolíticas dos últimos dois anos deixaram-nos verdadeiramente com a cabeça à roda. Tanto é assim, que a necessidade de uma ação climática e de sustentabilidade mais ampla está a ser analisada, e vários projetos e políticas estão a ser reavaliados – desde projetos eólicos offshore aos esforços dos fabricantes de veículos elétricos, sem esquecer os objetivos climáticos.

Contudo, é fundamental que as empresas encarem a ação ambiental e as estratégias de descarbonização como uma oportunidade de rentabilidade, e não como um obstáculo a esta. Integrar princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) sólidos nas estratégias de crescimento conduz a um desempenho superior em termos de crescimento, rentabilidade e retorno dos acionistas. Se levado a cabo adequadamente, um maior foco em ESG pode tornar-se num catalisador para inovação, mais eficiência, custos mais baixos e crescimento do negócio. Isto, por sua vez, é uma oportunidade para entrar em novos mercados, atrair consumidores conscientes e reforçar a resiliência a longo prazo.

Ao incorporar considerações ESG em tudo o que fazem e estabelecer compromissos ambiciosos de sustentabilidade, as empresas conseguem um impacto positivo a longo prazo nas comunidades em que operam. Para levar isto ainda mais além, podem procurar ampliar esta abordagem a clientes, parceiros e outros intervenientes na sua cadeia de valor, para também os ajudar a reduzir as suas emissões.

Alinhamento regulamentar da UE: o poder transformador da CSRD

A CSRD, a nova diretiva relativa aos relatórios corporativos de sustentabilidade na UE, veio revolucionar a forma como as empresas da UE e as entidades fora da UE, mas com um volume de negócios significativo na região, reportam o seu progresso de sustentabilidade, exigindo que apresentem relatórios de acordo com normas ESG exaustivas. Esta diretiva procura padronizar as práticas de elaboração de relatórios, oferecendo clareza e transparência aos investidores e stakeholders e elevando a importância dos relatórios não financeiros ao mesmo nível dos relatórios financeiros.

No geral, a CSRD é um passo significativo no sentido de uma maior transparência e ação de sustentabilidade na UE, que deve ser consolidada ainda mais através de um diálogo constante entre o setor empresarial e os decisores políticos. As empresas devem adotar práticas de relatórios exaustivas, demonstrar progressos reais e contribuir ativamente para a gestão ambiental e a sustentabilidade empresarial. A aplicação desta diretiva vai sublinhar a importância da eficiência energética enquanto alavanca fundamental para as empresas reduzirem as suas emissões de carbono.

Uma maior eficiência energética ajuda a proteger as organizações dos picos de preços da energia como os que temos visto na Europa e noutros locais. Como tal, o compromisso com uma maior eficiência energética não é “apenas” uma responsabilidade ambiental, mas também um imperativo estratégico comercial e financeiro.

A ascensão do prosumer

A combinação da eletrificação e da digitalização – aquilo a que chamamos Eletricidade 4.0 – inaugurou também a era do prosumer: empresas ou agregados familiares que são ‘consumidores’ e ‘produtores’ ao mesmo tempo, produzindo a energia que consomem através de fontes renováveis como a energia solar ou eólica no local.

Para as empresas, as vantagens são evidentes. A produção e o armazenamento de eletricidade no local proporcionam proteção contra as flutuações de preços e a instabilidade da rede, e podem reduzir as faturas de energia – especialmente quando combinadas com software digital para otimizar as operações e a utilização.

Embora os custos de investimento inicial possam ser uma barreira, os modelos de ‘microgrids como serviço’ podem reduzir as despesas iniciais e proporcionar um caminho para poupanças contínuas. As microgrids permitem às empresas controlar as fontes de eletricidade, aumentando a resiliência durante as horas de ponta com preços grossistas voláteis. Esta flexibilidade permite a tomada de decisões financeiras informadas e estratégicas.

Esta transição não é apenas um passo, mas um verdadeiro salto no sentido de alinhar a produção de energia com a estratégia empresarial.

Tornar-se um prosumer é uma mentalidade transformadora para as empresas, permitindo-lhes abraçar a oportunidade de reduzir a sua pegada de carbono e controlar o destino da sua energia. Assumir este papel significa sustentabilidade, resiliência e prudência por entre os desafios de um panorama energético em evolução. O futuro pertence àqueles que utilizam a energia sabiamente e também a produzem de forma inteligente.

No meio de todas as incertezas, pode ser difícil saber em que é que nos devemos concentrar. No entanto, as alterações climáticas são o maior desafio que a humanidade enfrenta atualmente, e a intensificação da ação ambiental já não é opção. O que precisamos é de uma mudança de perspetiva: precisamos de ver os desafios como oportunidades de inovação, crescimento e rentabilidade, e precisamos de criar o futuro mais brilhante e sustentável que todos desejamos – para as empresas, a sociedade e o planeta.[i]

[i] A versão original deste artigo foi publicada no website do World Economic Forum: https://www.weforum.org/agenda/2024/01/climate-action-for-profitable-business-growth/

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