Sempre as Pessoas!

Por Ana Côrte-Real, Diretora MBA Executivo, Católica Porto Business School

Na semana passada, tive o prazer de moderar um painel sobre a Transformação Digital, no âmbito do MBA Executivo da Católica Porto Business School. Tivemos quatro convidados, que trouxeram a visão sobre o tema em geral e a visão mais específica dos setores aos quais estão ligados: João Vieira, Diretor Geral- Operações e Sistemas de Informação da MDS; Hugo Ribeiro da Silva, Managing Director/ Shareholder da XRS Motor SA – Centro Porsche Porto e Braga e CEO da Crewe Motor SA- Bentley Braga; Bruno Teixeira, Head of Big Data and Automation do El Corte Inglês; Paul Van Rooij, Former CEO da Kirchooff, Consultor de Empresas.

Não posso dizer que me tenha surpreendido que, numa conversa onde a tecnologia podia ser a chave, o foco tenha sido nas pessoas. Sempre as pessoas!

O painel realçou a questão da transformação digital não ser uma mera implementação de tecnologia, mas ser algo capaz de manter o ADN das marcas aproveitando a tecnologia, criando novos modelos de negócio e aumentando o valor junto dos seus públicos.  O tema dos dados foi outro tópico importante nesta conversa, salientando-se que as empresas têm de ser capazes de converter os dados em informação útil, mas acima de tudo, têm de ser capazes de tomarem decisões sobre que informação deverão disponibilizar.

Foi ainda referido que uma coisa é falar da digitalização e outra, bem diferente e bem mais exigente, é falar de transformação digital. E é no âmbito desta “discussão” que surgem as pessoas. A importância da intervenção das pessoas nos processos de transformação digital. Os oradores não tiveram qualquer constrangimento a assumir que será uma utopia pensar em transformação sem as pessoas terem um determinado tipo de atitude, sem as pessoas sentirem necessidade de mudar e vontade de o fazerem.

É aqui que realmente eu me pretendo focar: o que fazem os líderes pelas suas “pessoas” se são estas o motor de qualquer transformação, seja ela digital ou de outro cariz qualquer?

E o que fazem as “pessoas” para serem efetivamente um valor para a empresa, para si mesmas, para os seus clientes, para os seus stakeholders e para a sociedade?

De facto, o investimento nas pessoas deveria ser o foco de qualquer processo de transformação. Por mais tecnologia que surja, de que servirão esses avanços se as pessoas não tiverem um determinado tipo de atitude?! Quantas empresas apostam em softwares de gestão e depois vivem um “inferno” para que as suas equipas o passem a adoptar?! Quanta frustração, quanto desperdício, quanta energia despendida nestas abordagens, que acabam por frustrar tudo e todos?!

Perguntam-me, com toda a legitimidade, o que fazer?

Pois bem, seria maravilhoso eu ter uma resposta milagrosa… mas não tenho. Tenho, porém, algumas partilhas para refletirmos:

  1. a importância de fazermos pedidos com base em necessidades objetivas, reais, capazes de criarem a necessidade nas pessoas dessa mudança;
  2. o envolvimento das pessoas nos processos e não apenas como destinatários dos pedidos finais;
  3. o impacto da formação nas pessoas. A formação não é apenas o conteúdo em si mesmo, mas todo o seu processo o qual permite tempo para refletir, espaço para colocar em dúvida todas as crenças ganhas ao longo da vida profissional, tempo para se fazerem questões, o networking e o estímulo à criatividade;
  4. A aposta em processos de desenvolvimento pessoal e profissional, como o coaching e o mentoring. Para quê? Simples: temos de compreender que para que se mude, não basta saber o que se tem que mudar e como. É preciso experimentar e errar, perceber as dificuldades e desafios, entender os obstáculos e como os ultrapassar, obter resultados e repetir e não menos importante, é preciso celebrar. E os processos, credíveis, de coaching e de mentoring conseguem ajudar na obtenção destes resultados.

Mas estávamos a falar de transformação digital, certo? Certíssimo. Por isso falámos de pessoas. Não esqueçamos que a transformação digital só acontece quando as pessoas querem que ela aconteça.

Por mais tecnologia que haja, por mais digital que o nosso mundo se torne, serão sempre as pessoas a fazer a diferença. E convém não esquecermos que os nossos consumidores continuarão a valorizar emoções e experiências.

Numa palavra: sempre as Pessoas! E ainda bem, digo eu!

Ler Mais