Revisitar a questão dos materiais necessários para a transição energética
Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros
Muito se tem falado dos minerais críticos sendo que quatro deles costumam ser apontados como os principais: lítio, cobre, cobalto e níquel. E há apenas alguns países que têm assinaláveis reservas destes minerais críticos, que poderão ganhar a lotaria, como aconteceu aos petroestados da “idade do petróleo”. Embora seja difícil estabelecer bem as reservas existentes, dado que novas minas vão abrindo, alguns países parecem estar a ganhar esta corrida.
No que respeita ao lítio o US Geological Survey aponta a Austrália e o Chile com possuindo as maiores reservas em minas existentes, seguindo-se a Argentina (talvez assim a sua situação económica melhore!), a China e o Canadá. No que respeita ao cobalto, sobressaem países africanos subsarianos, sobretudo a República Democrática do Congo, seguindo-se a Austrália e a Indonésia. No caso do cobre o Chile tem a maior fatia, seguindo-se a Austrália e o Perú. Quanto ao níquel, o escalonamento é Austrália, Brasil e Rússia. E isto sem falar das terras raras, absolutamente essenciais a tudo o que tenha que ver com motores elétricos e a eletrificação da economia, em que a China sai destacada.
Mas nem só de minerais críticos necessita a transição energética. Materiais correntes como o betão o aço, o vidro, que assentam noutros recursos minerais mais abundantes são também necessários para se cumprirem as metas da descarbonização. Saliente-se, no entanto, que alguns desses recursos considerados abundantes, como a areia, começam também a ser limitados se considerada a sua obtenção de uma forma sustentada. Mas além do volume dos recursos necessários há também que considerar o impacto nas emissões de CO2 associadas à sua produção. E este fator nem sempre é lembrado. Um interessante estudo efetuado a nível nacional relativamente à geração de eletricidade renovável na UE, publicado no Journal of Cleaner Production, fez esta análise.
Estes materiais de construção correntes são naturalmente necessários para as fundações, estruturas, componentes e equipamentos de tecnologias energéticas baseadas em recursos renováveis. Assim, este estudo avaliou as quantidades necessárias destes materiais/matérias-primas para se atingir o preconizado na iniciativa europeia “Fit for 55” (FF55) que se refere à meta da UE de reduzir as emissões líquidas de gases com efeito de estufa em, pelo menos, 55 % até 2030.
Sendo fastidioso apresentar aqui os valores em toneladas por MW de eletricidade produzida, para cada um dos materiais/matérias-primas e cada uma das tecnologias e das emissões dos gases de efeito de estufa (GEE) dos processos relacionados, foram estudados vários cenários e a sua evolução ao longo do tempo. Resta agora, futuramente, comparar os valores obtidos com aqueles que seriam necessários se estas tecnologias não fossem implementadas e se mantivessem em utilização as anteriores tecnologias energéticas para os consumos previstos.
De qualquer modo, concluiu-se também que só a reciclagem não é suficiente para assegurar os objetivos da FF55 e que uma transição energética sustentável requer maiores níveis de economia circular. Por isso será necessário direcionar o investimento dirigido para a mineração para aumentar o investimento na recolha, tratamento e uso dos “resíduos”.
Estará assim aqui aberta uma oportunidade de negócio muito importante, nomeadamente no nosso país, com recursos escassos, que, a par da assinalável implementação das energias renováveis, nos poderia elevar para outro patamar tecnológico e económico.