Portugal… a casa tecnológica da Europa

Por Nelson Silva, Head of R&D Electronic Devices & Systems na Siemens Portugal

“Se queres ir rápido vai sozinho, mas se queres ir longe vai acompanhado”. Esta expressão tem estado presente na vida de muitas pessoas, especialmente no âmbito profissional. Mas é no mundo dos negócios, e particularmente no ramo tecnológico, que esta ideia tem maior expressão.

Portugal tem sido um destino de relevo para várias empresas tecnológicas globais. Temos belas praias, boa comida, um povo acolhedor, mas se só destacássemos estas características estaríamos a ignorar uma das principais razões que levam a Microsoft, a Google ou a Siemens a optarem pelo nosso país: o ecossistema tecnológico que foi criado em Portugal e que é um dos elementos mais atrativos para as empresas internacionais, independentemente do seu tamanho.

Qualquer organização que faça Investigação e Desenvolvimento (I&D) tecnológico tem de ter acesso a talento académico de topo, a profissionais de desenvolvimento de software e hardware experientes e a projetos reais que sejam potenciadores de criação de novas tecnologias para solucionar problemas práticos.

Além disso, ter parceiros que tenham a vontade de fazer parte das soluções de futuro e o nosso histórico empreendedor têm sido fatores essenciais para esta aposta em I&D tecnológico em Portugal. Várias multinacionais passaram a olhar para o trabalho que se desenvolve em Portugal ao nível da sustentabilidade, transição energética, mobilidade e gestão de edifícios e modernização industrial, como chamariz de colaboração e de entrada num ecossistema que, de momento, poucos países na Europa conseguem oferecer.

Quando noutros países as empresas são concorrentes, em Portugal reencontram-se na qualidade de parceiros estratégicos. Esta realidade diária é um forte atrativo para o reforço da aposta tecnológica.

A nível energético, um tema fundamental no momento atual, Portugal é neste momento pioneiro na utilização de energia renovável, sendo inclusivamente um exemplo e case study internacional. As próprias empresas portuguesas têm um incentivo próprio de querer inovar no ramo da sustentabilidade, veja-se os exemplos da forte aposta da EPAL e do grupo Águas de Portugal (AdP) na digitalização dos seus processos para garantir a neutralidade energética.

Mais: os vários programas de fomento à criação de start ups que por esse Portugal fora se vão realizando, permitem um estímulo único à criação de ecossistemas empresariais e uma forte colaboração entre start ups pequenas, que sendo mais ágeis e rápidas, permitem uma parceria estratégica interessante com empresas mais robustas e consolidadas.

Existem muitos países ditos “low-cost” que poderiam atrair todos estes investimentos que rotineiramente vêm para a Portugal, no entanto, é no nosso país que as empresas continuam a apostar de forma robusta. Existe neste “retângulo à beira-mar plantado” uma atitude que é dificilmente replicável e que compõe o nosso ADN, o “desenrasque”, ou, na gíria empresarial, uma atitude proativa de resolução de problemas. Esta proatividade, qualidade e competência únicas são conhecidas e reconhecidas e, sem dúvida, que Portugal é uma boa aposta para a evolução e criação tecnológica para o mundo.

Um dos mais recentes projetos veio pela mão da Siemens AG. Ao localizar a Technology (T) em Portugal, o seu departamento central de Investigação e Desenvolvimento tecnológico, a empresa reforçou o investimento no país fazendo crescer as equipas e projetos nas diversas áreas e tecnologias core nas quais faz I&D.

A essa escolha não está alheio o acesso a talento de topo nas nossas universidades e a parceiros empresariais que trabalham nos campos chave para a investigação tecnológica. A Technology é uma das mais importantes organizações dentro da empresa, tem poucas regiões espalhadas pelo mundo e opera essencialmente na criação de ofertas tecnológicas nucleares para o futuro, nomeadamente na circularidade industrial, IoT, sustentabilidade, inteligência artificial e sistemas inteligentes.

Prevejo que o futuro, quer para estas apostas empresariais, quer para o futuro da I&D em Portugal, seja risonho e um forte contributo para a continuidade e a consolidação de um ecossistema único na Europa. Porque se queremos ir rápido vamos sozinhos, mas se queremos ir longe temos de ir juntos.

 

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