Pensar fora da caixa

Por Pedro Rodrigues, CEO da BMcar

 

O setor automóvel vive uma transformação como nunca se viu na sua história. Por um lado, lida com uma transformação profunda com a adoção dos veículos elétricos – sem deixar de procurar energias alternativas igualmente eficazes e sustentáveis – ao mesmo tempo que se vê confrontado com limitações de matérias-primas, fornecimento insuficiente de peças e custos cada vez mais altos que se irão refletir no preço final das viaturas.

Mas as alterações a que temos vindo a assistir também se sentem na forma como o produto é distribuído, como se concretiza toda a parte de negócio tanto com a fábrica como com o cliente final, seja ele privado ou empresarial. Podia aqui enumerar outros exemplos de transformações num dos setores com mais peso a nível mundial, mas mais do que isso, hoje é consensual que os recentes desafios criaram a necessidade de nos adaptarmos de uma forma mais rápida a esta nova realidade.

É preciso pensar fora da caixa, sermos menos conservadores em várias matérias, termos uma reposta pronta e ajustada às diversas necessidades e tudo isto tem de ser conseguido em tempo recorde. Esta corrida contra o tempo é constante e num ritmo cada vez mais intenso, pois existe uma grande concentração de decisões, fenómenos, acontecimentos, respostas proativas ou reativas que têm vindo a obrigar a que nós enquanto empresa, sejamos mais rápidos do que nunca.

Mas não se pode ver este pensamento fora da caixa como uma corrida de 100 metros. Trata-se sim de uma maratona que exige visão estratégica, mas também tem de haver espaço e disponibilidade para a flexibilidade e capacidade de adaptação à mudança, tendo ainda por base o empenho e a paixão que fazem sempre a diferença, sobretudo, quando sentimos que podemos não conseguir chegar ao próximo quilómetro.

Para continuarmos a somar quilómetros numa área altamente competitiva, que tem vindo a registar a entrada de novos players, com uma regulamentação sempre exigente, temos de ser capazes de melhorar o negócio atual e ter a capacidade de abraçar novos desafios. Esta última observação pode parecer ‘filosófica’ ou ‘teórica’, mas a experiência recente e a forma como encaramos o futuro dá-nos todas as certezas que as oportunidades têm de ser agarradas quando surgem e não quando queremos que apareçam.

Ao mesmo tempo que criamos a tal visão estratégica e pensada para ser à prova de tudo, temos de estar preparados para novas tendências como a generalização do modelo de agência por parte das marcas, a redução abrupta de margens, a passagem a esquema de comissionamento, a redução e consolidação das redes de concessionários, o impacto das viaturas elétricas na faturação após venda, etc. A acrescentar a tudo isto, contamos ainda com o fenómeno tecnológico que até há uns anos era visto como demasiado futurista, mas que está aí à porta: a introdução das viaturas totalmente autónomas poderá trazer outra grande disrupção no modelo de negócio no nosso setor.

Tudo isto não deve ser visto como algo negativo, pelo contrário, encontramos diversas oportunidades que merecem a nossa atenção, entre elas, a consolidação das redes de distribuição, a solidez dos grupos, a excelente cobertura geográfica (para quem assim foi montando o seu negócio), a digitalização do processo de vendas e de serviço que vai continuar a ser um fator diferenciador, a diversificação de atividade após-venda, o incremento da atividade na área dos veículos usados, o foco em áreas de negócios complementares à venda de viaturas e serviços.

Mais do que nunca é imperativo olhar para o mercado automóvel numa perspetiva de 360º graus, pois no fim do dia já não se trata apenas do automóvel.

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