Para onde caminha o e-commerce em Portugal? Visões e desafios

Por Paulo Felix, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da FCamara Europe

Os portugueses são frequentemente apelidados de early adopters no que se refere a novas tecnologias, ou seja, utilizadores recetivos à experimentação de novidades. Mas desengane-se quem pensa que isso nos coloca na dianteira tecnológica face a outros mercados.

Veja-se o caso do recurso ao e-commerce, um setor em que, de acordo com o Ranking do Eurostat, divulgado no 1.º trimestre de 2023, Portugal fazia parte da lista dos cinco países da União Europeia onde os cidadãos fizeram menos compras online. Segundo o Eurostat, as compras online continuam a crescer no espaço da União Europeia. Em 2022, 91% das pessoas entre os 16 e os 74 anos na UE tinham utilizado a Internet, 75% das quais tinham comprado ou encomendado bens ou serviços. Além disso, a proporção de e-shoppers cresceu de 55%, em 2012, para 75%, em 2022, com destaque para os Países Baixos (92%), para a Dinamarca (90%) e Irlanda (89%), países que mais cresceram neste campo.

Já Portugal, e apesar do crescimento significativo registado entre 2012 e 2022 espelhado na análise do Eurostat, continua na cauda da Europa no que que se refere à utilização deste canal de vendas.

Mas afinal, o que está a falhar nesta relação entre, por um lado, o “estatuto” early adopters e, por outro, a dificuldade em fazer valer as potencialidades do e-commerce junto dos consumidores portugueses?

A verdade é que os desafios continuam a ser muitos e diversificados para as empresas que desenvolvem a sua atividade nestas plataformas.

Começo por destacar a necessidade de integrar o e-commerce na estratégia do negócio. Hoje, mais do que nunca, as empresas devem orientar o seu posicionamento e abordagem ao mercado para a matriz tecnológica e para a experiência do cliente.

Por outro lado, exige-se a proteção das informações pessoais dos consumidores contra ameaças cibernéticas, e, por isso, a cibersegurança e proteção de dados são preocupações fundamentais.

E, por último, constato que a integração é a palavra-chave quando se trata da matriz tecnológica. Isto é, um e-commerce exige um conjunto alargado de tecnologias, como a inteligência artificial ou cloud, só para citar dois exemplos, que, para assegurar a performance bem-sucedida do negócio on-line, a eficiência operacional e uma boa experiência de compra, precisam de estar integradas e de ser pensadas como um todo.

As vantagens de adotar uma estratégia de marketing realmente integrada na plataforma de e-commerce e nos sistemas de gestão da empresa permite otimizar o investimento em paid media e potenciar a fidelização e a recorrência de compra do consumidor.

Os desafios, mas também as oportunidades, estão aí e o maior deles é conseguir reunir as ferramentas necessárias para evoluir e ganhar tração para que este canal possa ser orquestrado dentro da estratégia de negócio, um trabalho ainda difícil para as pequenas e médias empresas, a quem muitas vezes faltam as competências necessárias. Um estudo da Amazon concluiu que 70% dos proprietários de PME na Europa têm dúvidas sobre a melhor forma de expandir os seus negócios online, apesar de a maioria reconhecer o valor e o potencial da digitalização dos seus negócios.

Hoje, a competitividade do mercado não permite subestimar nem subinvestir no e-commerce. Diria que é um caminho sem retorno. Nada que não se consiga agilizar com a criação de uma rede de parceiros que complemente e suporte as competências internas das empresas para que a estratégia destas para os canais digitais seja eficaz e responda às necessidades de e-commerce dos consumidores.

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