País sem estratégia?

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Portugal é considerado um país sem estratégia de médio e longo prazo. Os ciclos eleitorais definem a táctica política num mundo blocal, instável, imprevisível e que se move de crise em crise. Pelo que o país precisa de um novo contrato social com o país e com os cidadãos. Contrato esse assente em 6 funções básicas e fundamentais do estado. Não se trata de um programa do governo mas sim de uma visão transformadora do país. Estas são as macro funções e respectivas áreas na gestão do país que considero fundamentais. São as funções da responsabilidade do governo com o contributo dos outros políticos, das empresas e empresários, dos cidadãos e seus movimentos organizados ou inorgânicos), da administração pública, dos influenciadores, dos comentadores e dos jornalistas:

  • Função relativo às Pessoas: Saúde, educação, diversidade, coesão e estabilidade social.
  • Função relativa à Qualidade: ambiente, sustentabilidade e recursos naturais.
  • Função da transição económica: trabalho, economia, migração, inovação e fiscalidade
  • Função da Competitividade: transporte, mobilidade, turismo, cultura, digitalização e inovação.
  • Função Social: demografia, habitação e território.
  • Função do estado:  justiça, modelo político, segurança e simplificação da administração pública.

Queremos a intervenção do estado, a regulação atenta ou ambas? Os partidos tradicionais de esquerda apresentam propostas de centro direita mas o vice versa também acontece (talvez porque deixou de existir esquerda e direita, são todos ideólogos pragmáticos sociais democratas). E depois aqueles que são contra a livre economia e a favor da economia planeada apresentam propostas que até podem limitar os direitos individuais. Assim como os populistas são a favor de tudo que lhes dê votos. E o objectivo destas propostas deveriam ser as pessoas, sempre as pessoas. Mas muitas vezes não é! Por isso decidi dar a minha opinião nesta rubrica sobre estes temas. Pelo menos reforçar quais são os temas estruturantes definidores das estratégias do país. Não os do diário da politiquice se vão fazer alianças ou não. Isso apenas interessa aos próprios, jornalistas e comentadores. E nada melhor do que começar por definir quais são as funções prioritárias, aquelas onde a “mão invisível” deve intervir mais, ou menos. Sabendo nós que temos de nos focar em estratégias mas só após a definição do nosso propósito como país e o que queremos para o seu futuro. Eu visiono um país democrata com círculos uninominais, por exemplo. Em que haja uma face no meu voto. Mas esse é um tema dentro das várias funções do estado que devia estar a ser discutido agora pelos candidatos e apresentado aos eleitores. Trata-se de pedagogia democrática e não de baixa politiquice a que assistimos todos os dias.

“A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.”- Eça de Queiroz em 1867