Obesidade: Quando o estereótipo dita o sucesso profissional

Por Prof. Doutor Gil Faria, Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo. Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde. Professor da FMUP. Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

Num mundo permanentemente conectado, o sucesso profissional é ainda, muitas vezes, ditado pela imagem. Neste contexto, a obesidade surge como um tema complexo, sendo muito mais do que uma condição física, mas uma doença que pode influenciar significativamente as oportunidades profissionais e a trajetória de carreira de uma pessoa. Os estereótipos e as barreiras sociais, entrelaçam-se com as limitações físicas, criando desafios únicos para aqueles que lutam contra o excesso de peso.

Imagine uma pessoa talentosa, qualificada e dedicada ao seu trabalho, que (como me contou uma paciente recente) se vê diariamente subestimada devido à sua aparência, ao seu “tamanho”. Infelizmente, a sociedade associa a obesidade à falta de disciplina ou à preguiça, ignorando as reais habilidades e talentos. Este preconceito pode criar obstáculos ao avanço profissional, limitando oportunidades de emprego ou promoções. Também ao nível dos salários recebidos, nos EUA foi documentado que, na maioria dos grupos profissionais e graus de ensino, as pessoas com obesidade recebiam salários inferiores.

Nesta sequência, a obesidade pode afetar a confiança nas próprias capacidades e a autoestima, que são elementos fundamentais para o sucesso profissional. Pessoas com obesidade sentem-se, por norma, mais inseguras em entrevistas de emprego ou em eventos de “networking”. O estigma social associado à doença leva, frequentemente, à exclusão e ao isolamento no local de trabalho, comprometendo a autoconfiança e a produtividade.

Além disso, a obesidade está habitualmente ligada a problemas de saúde que podem resultar em absenteísmo no trabalho e diminuição da eficiência. Condições clínicas relacionadas com a obesidade, como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, podem levar a incapacidades temporárias frequentes, impactando negativamente a continuidade e o sucesso no ambiente profissional.

No entanto, é fundamental destacar que o sucesso profissional não pode ser medido apenas pela aparência física. Algumas empresas e organizações progressistas começam a reconhecer a importância da diversidade e inclusão, valorizando a variedade de habilidades, experiências e perspetivas que os profissionais com obesidade podem oferecer.

Adicionalmente, muitas pessoas obesas desenvolvem resiliência e determinação extraordinárias ao enfrentar as dificuldades impostas pelo preconceito. Essas experiências moldam uma força interior que pode impulsionar o sucesso. A superação de obstáculos e a conquista de metas apesar das adversidades demonstram uma incrível capacidade de perseverança, uma qualidade valiosa no mundo profissional.

Além do mais, o tratamento da obesidade, não apagando a história passada e mantendo a capacidade de resiliência e superação, reforça a autoestima, a confiança e a vitalidade física destes doentes. Um recente estudo norte-americano comprovou que, após a cirurgia bariátrica, os doentes empregados tinham significativamente menos absenteísmo laboral, logo, melhor produtividade. As significativas melhorias na qualidade de vida, na mobilidade, na qualidade do sono e, de forma global, na “felicidade”, leva ao desabrochar de trabalhadores mais felizes e mais produtivos. O verdadeiro sucesso não se mede pelo peso corporal, mas pelo carácter, atitudes e habilidades, pelo que a obesidade não deveria ser um obstáculo para a realização profissional.

 

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