O que é que podemos fazer hoje?

Por Ricardo Patrício, Diretor Executivo da Associação Movimento 1 Euro

Em 2022, apenas 18% das empresas portuguesas investiu em responsabilidade social. Quer isto dizer que ainda há muitos decisores que não reconhecem os benefícios de um investimento sólido nesta área não estando igualmente cientes dos impactos concretos, positivos e imediatos que estes tipos de ações podem ter nas suas receitas.

Cada um dos decisores empresariais enfrenta todos os anos decisões complexas, que exigem capacidade de prever e planear com base em cenários em constante mutação, enquanto lidam com as consequências da gestão efetuada no exercício orçamental anterior. Não é um papel fácil. A verdade é que, hoje, os melhores recursos humanos colocam no topo das suas decisões quanto à empresa onde querem trabalhar, uma postura socialmente responsável, e recusam-se a trabalhar naquelas que optam apenas por meras ações pontuais sem uma estratégia clara e previamente definida. O mesmo podemos dizer quanto às escolhas de consumo. Pelo que uma empresa que não produza de forma socialmente consciente terá menores hipóteses de conquistar quota de mercado.

Ora, entre os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável figuram, erradicar a pobreza e erradicar a fome até 20230. São os dois primeiros objetivos. Essa é a medida da sua importância. Como? Como podem as lideranças empresariais contribuir para esses dois objetivos?

Nos últimos anos, no panorama internacional, tem-se dado cada vez mais destaque à temática da Responsabilidade Social Corporativa (CSR – Corporate Social Responsability) e às novas obrigações ESG (Environmental, Social, and Governance) que moldam o mercado global, contudo, em Portugal, muitas empresas ainda não compreendem essa urgência.

Para que haja efetivamente esta mudança de paradigma, é imperativo que as empresas compreendam a necessidade de definir estratégias eficazes que estejam em sintonia com as novas medidas ESG, estabelecendo prioridades para a responsabilidade social não só a pensar no futuro, mas também no momento presente.

A verdade é que as obrigações ESG, que estão a ser cada vez mais monitorizadas em Portugal e na União Europeia, exigem que as empresas apresentem relatórios sobre essa mesma integração de critérios ambientais, sociais e de governance nas suas operações. Ignorar estas normas pode não só representar uma falha ética, mas também uma negligência estratégica e empresas que não adotem uma postura proativa enfrentarão desafios de compliance, riscos reputacionais e potenciais penalizações.

O tempo de agir é agora e estes números demonstram claramente a oportunidade significativa de criar um impacto positivo na comunidade, alinhando a responsabilidade social com os objetivos estratégicos das empresas.

O segredo para atingir objetivos está na ação. Nós somos o que fazemos, mais do que o que sonhamos. O mesmo se pode dizer das empresas.

Criar um departamento dedicado ao Corporate Social Responsibility (CSR) poderá ser um bom ponto de partida, não só para as grandes organizações como também para as pequenas e médias empresas, sendo visto como uma medida estratégica para que se alcancem resultados positivos. Mesmo empresas que ainda não possuam uma estrutura formal para CSR podem começar com pequenas ações diárias, como práticas sustentáveis e de inclusão que façam realmente a diferença.

Com a ação temos identidade e com ela consequências. Para além de uma reputação mais sólida, uma maior fidelização de clientes e colaboradores e um impacto positivo na sociedade, existem outros benefícios a curto prazo que uma estratégia de CSR pode oferecer tais como, a redução de custos operacionais, a melhoria da imagem e da reputação, o acesso a novos mercados e oportunidades de financiamento e um aumento da atração e retenção de talentos.

Gerir para a responsabilidade social não é uma tendência dos tempos, mas uma exigência da realidade que vivemos e uma estratégia para assegurar o futuro. Não é uma vaga sugestão, mas uma boa prática de gestão vocacionada para o sucesso. Mais do que um compromisso com a comunidade, é uma decisão estrategicamente saudável e parte integrante das operações empresariais modernas.

Mais do que nunca, este é o momento ideal para investir em CSR e ESG, sendo uma estratégia crucial para assegurar a resiliência e a competitividade tanto a curto como a longo prazo, o que fará com que as empresas prosperem, investindo no bem comum, mas também no seu próprio sucesso.

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