O potencial de Portugal para a Biotecnologia Azul

Por Joana Branco, Vogal da Direção da P-BIO

Ao longo dos séculos, o mar tem sido uma grande fonte de prosperidade económica. E, no caso de Portugal, tal é particularmente verdade, mas ainda pode ser mais impulsionado. O que Portugal já faz e o que pode fazer para contribuir para uma melhor biotecnologia azul?

As costas e os oceanos representam uma nova fronteira de recursos e Portugal é apenas um dos muitos países que estão a implementar estratégias orientadas a um “crescimento azul”, assentes em inovação tecnológica, como fonte alternativa de soluções para dar resposta a diversas necessidades, e ao mesmo tempo contribuindo para a resolução de desafios globais: Sustentabilidade Alimentar, Recursos Renováveis (como biocombustíveis, bioplásticos ou produtos químicos a partir de fontes renováveis), Saúde (tratamento e diagnóstico), Conservação e Restauro de Ecossistemas Aquáticos Degradados, Eficiência na Aquicultura, Eficiência Energética, Materiais Sustentáveis, Inovação Tecnológica e Combate às Mudanças Climáticas.

A pesca e a aquicultura são, desde há muito, importantes fontes de alimentação, mas, fora destes setores, a utilização de recursos biológicos aquáticos renováveis para o fabrico de produtos está ainda numa fase embrionária. No entanto, um futuro sustentável exige um oceano saudável, assim como a utilização sustentável dos seus recursos marinhos.

A Bioeconomia azul baseia-se na exploração de recursos aquáticos vivos (principalmente macro e microalgas, bactérias, fungos e invertebrados) como matéria-prima para fornecer uma grande variedade de produtos, processos e serviços. No âmbito da Bioeconomia Azul em geral, a Biotecnologia Azul, também conhecida como Biotecnologia Marinha, enquanto tecnologia facilitadora, desempenha, atualmente, um papel menor mas bastante promissor. Trata-se de uma tecnologia multidisciplinar, de conhecimento e capital intensivo, que permite a utilização de produtos biológicos (organismos inteiros, células, genes) dos ambientes aquáticos para criar produtos úteis para diferentes mercados, como o abastecimento sustentável de alimentos, a saúde humana, a segurança energética e a remediação ambiental. Os avanços tecnológicos e o sólido conhecimento que temos hoje sobre os nossos mares é, certamente, um dos principais alicerces para um franco desenvolvimento nesta área.

No entanto, a biotecnologia azul não está isenta de desafios éticos e ambientais. A exploração excessiva dos recursos marinhos e a modificação genética de organismos podem ter impactos adversos no meio ambiente e nas comunidades locais. Isto implica que a atividade humana deve ser gerida de forma a garantir a saúde dos oceanos e a salvaguardar a sua produtividade económica a longo prazo, para que o potencial que oferece possa ser sustentado ao longo do tempo.

Portanto, é crucial que os avanços nessa área sejam responsáveis, acompanhados de regulamentações rigorosas e de práticas sustentáveis para garantir que os benefícios sejam equitativamente distribuídos e que os ecossistemas marinhos sejam preservados. Estes são alguns dos desafios discutidos no BIOMEET 2023, encontro anual do setor da biotecnologia, organizado pela P-BIO, Associação Portuguesa de Bioindústria, e que tem o tema da biotecnologia enquanto catalisador da bioeconomia como uma das suas prioridades.

Um dos objetivos da ONU é proteger pelo menos 30% do oceano até 2030. Claramente, as oportunidades superam os desafios e a biotecnologia azul tem o potencial de desempenhar um papel vital na promoção da sustentabilidade dos oceanos e na criação de soluções inovadoras para os problemas globais.

Portugal é, atualmente, a terceira maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia, a quinta da Europa e a 20ª do mundo. Reúne todos os requisitos para se tornar num líder na biotecnologia azul, aproveitando a sua tradição, recursos naturais e experiência acumulada ao longo dos séculos para promover a sustentabilidade dos oceanos e impulsionar a inovação. É imperativo que se reconheça a importância do conhecimento científico instalado para potenciar o contributo do mar para a economia do País e para o seu desenvolvimento, sendo esta a visão que norteia a Estratégia Nacional do Mar 2021-2030.

Mas, para que a contribuição deste “crescimento azul” se torne numa realidade, é necessário um forte apoio político, um quadro regulamentar seguro e de infraestruturas avançadas, tanto no mar como nos laboratórios, bem como centros de interface para alavancar este crescimento. É também essencial que haja um constante investimento em literacia dos oceanos. Do mesmo modo, é importante continuar a apoiar a investigação fundamental e aplicada nesta área e fomentar uma cooperação interdisciplinar e a ligação em rede, a nível nacional e internacional

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