O luxo pode ser a solução

Por André Marques da Silva, CEO da GMS Store

 

O comércio mundial está, desde 2020, a operar em circunstâncias excecionais. Ao desafio da pandemia, que alterou radicalmente o comportamento dos consumidores, seguiu-se uma guerra, a guerra da Ucrânia, com a subsequente crise energética e a inflação.

Não me recordo de condições mais tempestuosas que estas nos últimos 14 anos, exatamente quando o mundo finalmente parecia começar a respirar, vemo-nos mergulhados num mercado em declínio, com os custos operacionais a aumentar, onde a capacidade de inovar e automatizar soluções de consumo, ditará como viveremos nos próximos anos.

Os mercados em todo o mundo estão à beira de uma recessão e, embora o luxo seja relativamente imune a desacelerações de curto prazo, os próximos cinco anos serão ainda mais desafiadores.

A China terá aqui um papel importante como de resto os EUA. Juntos representam mais de 50% do consumo de luxo, a previsão será que só a China representará 50% do mercado de luxo mundial. Pelo que se somarmos à inflação, crise energética resultantes da guerra na Ucrânia, outro elemento de incerteza em qualquer um destes dois mercados, teremos motivos para nos preocuparmos. Uma queda acentuada no valor financeiro dos ativos motivada por uma inflação prolongada afetará inevitavelmente este mercado. Se os  ultra-ricos vão perder algum  poder de compra, a classe média alta que consome muitos produtos de luxo vai sofrer bastante.

Algumas marcas de luxo já alertaram de resto para a volatilidade dos mercados, apesar da resiliência do setor e do consumidor. Qualquer previsão para 2023 estará diretamente dependente do comportamento dos EUA e China.

E a Europa? E Portugal? Anita Balchandani, responsável pela área de moda e luxo na consultora McKinsey, relembrou há pouco tempo a dificuldade de prever ou sequer desenhar um cronograma para a recessão que se adivinha na Europa. E tem razão. Existem demasiados pontos de incerteza depois de 2 anos de crescimento durante a pandemia e com um verão em que os consumidores procuraram essencialmente uma gratificação por meio de gastos, pelos dois anos de intermitente lockdown. Uma reação psicológica que poderá desacelerar com a mudança de estação.

E, no entanto, há dados que se mantêm inalterados, nomeadamente a resiliência do consumidor do luxo, praticamente imune aos sucessivos aumentos de preços nos últimos anos. Há exemplos extraordinários em que marcas aumentaram várias vezes os preços dos seus produtos sem qualquer mudança na procura.

No entanto, a tendência de as pessoas comprarem menos, mas comprarem melhor, continua a ganhar força. O luxo, como dizia Coco Chanel, é o oposto de vulgaridade e os ricos e ultra-ricos do mundo “precisam” dos produtos de luxo para se distinguirem dos demais. O luxo é muito aspiracional, ao comprar um produto de luxo, existe um sentimento de pertença a um clube restrito, bem como enorme satisfação pessoal.

Para Portugal, o luxo pode ser a melhor aposta. Um país com uma qualidade de vida acima da média, bom tempo, cultura, gastronomia e acessibilidades, deve apostar no mercado de luxo como fizeram os franceses no princípio do século XX e os italianos depois da segunda guerra mundial. Motivar, os seus empresários, artistas, designers, arquitetos, chefes e todos os que fornecem e produzem bens e serviços.

Produtos e serviços que vão de peças de arte e design, a serviços de hotelaria de exceção, a investimentos imobiliários. Até a proverbial periferia de Portugal o torna atrativo, protegendo o turista e emigrante de luxo do desconforto do conflito que se desenrola a leste.

Num inverno que se adivinha difícil, Portugal poderá ter uma boa resposta à crise se apostar na excelência, no luxo e na exclusividade.

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