O hidrogénio arco-íris

Por Luís Gil, Vice-Presidente do Centro da Biomassa para a Energia

Muito se tem falado do hidrogénio nos últimos tempos, como vetor energético de eleição para um novo paradigma no domínio da energia. No entanto, quem não é especialista, fica, por vezes, com algumas dúvidas, quando houve falar, nos mais diversos fóruns e publicações, de vários tipos de hidrogénio. Nomeadamente, das suas diferentes designações por cores, que por sua vez não estão sequer ainda completamente “solidificadas”. Nos tempos mais recentes quem ainda não ouviu falar, pelo menos, de hidrogénio verde? Mas outras designações “coloridas” também vão surgindo aqui e ali.

Na realidade, o hidrogénio é um elemento químico, o mais abundante, que na sua fórmula molecular, nas condições normais de pressão e de temperatura, constitui um gás sem cheiro e sem cor, mas inflamável. Porém, para distinguir os vários tipos de hidrogénio, obtidos em função de diferentes tipos de produção, foram estabelecidos códigos de cores, de forma a permitir diferenciar estes vários tipos em função das emissões carbónicas associadas às tecnologias utilizadas para a sua obtenção. No entanto, estas definições podem variar com o tempo ou de país para país, não havendo consenso.

Segundo a Associação Portuguesa da Energia (APE), não existe ainda uma normalização internacionalmente aceite para estas designações, pelo que a possibilidade de confusão persiste. De forma a poder contribuir para algum esclarecimento a este respeito, são aqui deixadas algumas caracterizações (também citadas pela APE) adaptadas do site da National Grid, a rede de transmissão de energia elétrica de alta tensão que serve a Grã-Bretanha:

Hidrogénio verde – produzido sem emissão de gases com efeito estufa, usando eletricidade limpa, nomeadamente excedente, de fontes de energia renováveis, como energia solar ou eólica, para a eletrólise da água; os eletrolizadores, através de uma reação eletroquímica separam a água nos seus componentes hidrogénio e oxigénio, não emitindo CO2;

Hidrogénio amarelo – hidrogénio verde produzido por eletrólise usando energia solar;

Hidrogénio rosa ou roxo ou vermelho – obtido por eletrólise alimentada por energia elétrica de origem nuclear;

Hidrogénio azul – produzido principalmente a partir do gás natural, pelo processo de reformação a vapor, que origina também CO2, sendo este capturado e armazenado (CCS) e sendo também denominado por “hidrogénio de baixo carbono”;

Hidrogénio cinzento – produzido através do processo atualmente mais comum de produção de hidrogénio, sendo obtido, também, a partir do gás natural (essencialmente metano) por reformação a vapor, mas sem captura dos gases com efeito estufa coproduzidos;

Hidrogénio preto ou castanho – produzido por gasificação de carvão ou lenhite (processo de produção do chamado gás de síntese), prejudicial para o ambiente; qualquer hidrogénio produzido a partir de combustíveis fósseis pelo processo de gasificação tem também a mesma designação;

Hidrogénio turquesa – obtido por pirólise do metano, produzindo-se hidrogénio e carbono sólido (ainda não praticado em escala industrial), podendo ser classificado como um hidrogénio de baixa emissão se o processo térmico for alimentado com energia renovável;

Hidrogénio branco – hidrogénio geológico, de ocorrência natural, extraído por fracking (atualmente não há conhecimento de projetos de exploração).

Assim, este vetor energético constitui um verdadeiro arco-íris. No futuro, algumas destas “cores” do hidrogénio poderão vir a “esbater-se”, enquanto outras se podem vir a “avivar”. Esperemos que no final deste arco-íris se venha a obter o pote de ouro que todos pretendemos encontrar.

 

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