O fotovoltaico e o espaço disponível

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Quando se fala do fotovoltaico vem-nos muitas vezes à ideia o espaço disponível para a sua instalação e os problemas frequentemente relacionados, como a ocupação de espaço agrícola, a modificação de ecossistemas, o abate de árvores, algumas protegidas como os sobreiros, a alteração da paisagem e uma série de outros aspetos com muito eco nos media e, consequentemente, na preocupação dos cidadãos. No entanto, há soluções que permitem obviar estes problemas. Numa estimativa feita há 3 anos era indicado que se previa que as centrais solares ocupariam dez mil hectares até 2030.

Uma dessas soluções é o agrivoltaico (ver por exemplo o meu artigo na Executive Digest online de 23 de maio de 2023 “A Ag-Tech de Agri-PV”). Porém, além da referida concorrência na utilização dos terrenos, os requisitos de licenciamento e até a possibilidade das ligações à rede, colocam restrições aos sistemas montados no solo. Porém, outras soluções são ainda possíveis.

Segundo um estudo recente do Centro Comum de Pesquisa da União Europeia (JRC), a implementação da instalação de painéis fotovoltaicos em áreas construídas, que podem englobar telhados, estradas, caminhos-de-ferro e outros, poderia satisfazer metade das necessidades a nível global europeu, mas no caso de países pequenos como Portugal seria mesmo possível produzir mais eletricidade por esta via do que a consumida. Sem comprometer o ambiente e acelerando a transição energética.

A estes sistemas será ainda de acrescentar o chamado fotovoltaico flutuante, com instalações já existentes, como a central solar flutuante do Alqueva, mas tendo grande potencial de crescimento, que aproveitam o espaço ocupado pela superfície das albufeiras.

No caso dos telhados solares, existem já soluções comerciais e certificadas que resistem a fenómenos como o granizo intenso. Por exemplo, são referidos telhados solares capazes de resistir a pedras de granizo com um diâmetro de 5 cm disparadas a 110 km/h, assim como a elevadas cargas de neve e forças de sucção do vento. Dadas as cada vez mais severas condições climatéricas, estas soluções tornam-se cada vez mais importantes.

No caso residencial, embora inicialmente esses telhados solares sejam mais onerosos, este custo será amortizado ao fim de alguns anos, sendo que depois disso o sistema solar paga o telhado, tornando-o, no tempo de vida útil, mais barato do que um telhado convencional. O curto tempo e a simplicidade de instalação também desempenham um papel importante.

Existem também as telhas solares fotovoltaicas geralmente constituídas de cerâmica ou de vidro e possuidoras de células de energia solar. As células fotovoltaicas são fixadas em seu corpo, sendo encapsuladas ou sobrepostas.

Estes tipos de soluções contribuem assim para a produção descentralizada de eletricidade, e através de produção local reduzindo as perdas de transmissão e contribuindo ainda para a resiliência do sistema energético nacional e evitando problemas de restrições ambientais para a ocupação do espaço na sua instalação.

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